A psicanálise e a monogamia
“Dois homens” (1913), de Egon Schiele (Reprodução)
“Propus que abríssemos a relação, mas meu marido disse que iria contar para meus filhos que nosso casamento iria acabar por isso”; “Ele rompeu nosso acordo de ficarmos com outras pessoas sempre juntos, e na balada pegou outra pessoa escondido. Quando o flagrei, senti muito tesão”; “Nós dois temos um relacionamento muito sólido, mas já faz muito tempo, né? Eu não o trocaria por ninguém, mas sinto muita falta de um ‘terceirinho’, daquela energia de uma paixão nova”.
Os excertos acima foram todos registrados em um espaço de pouco menos de três semanas, e estou seguro de que são recorrentes na clínica de muitos profissionais de saúde mental, psicanalistas ou não. Seriam tais falas indicativas de inquietações “atuais” ou, até mais que isso, serviriam como retrato do estado atual de uma suposta crise das formas com que até hoje organizamos nossa vida amorosa, especificamente uma crise da monogamia e da forma-casal? Seriam, em outra nota, emergências “novas” nas formas de relacionalidade e expressões do amor, projetando-se para fora das formas institucionais com que historicamente regulamos as relações e os afetos?
Em primeiro lugar, cabem algumas definições. À parte as distintas formas com as quais cada sujeito a experiencia e a configura em suas relações, o que seria a monogamia? Cabe uma resposta que aponte para algo geral? Creio que sim, e a definição que mais parece apropriada para essa questão é aquela feita pela escritora e ativista feminista Brigitte Vasallo, que em seu livro recém-traduzido para o
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