Psicanálise coxinha
"Coxinhas são os que se abstêm de pagar as sessões que buscam se apartar, como se nada tivessem a ver com o que desejam" (Arte Revista Cult)
“Não podemos nos esquecer do social”, tem sido dito, com certa frequência, em espaços de formação em psicanálise, esquecendo-se, todavia, de que no inconsciente não há negativa. Nos espaços e instituições públicas, entretanto, a frase recorrente é outra quando é dita a vinculação de alguém à psicanálise: “é coisa de coxinha”, como se naquele espaço não houvesse lugar para isso.
Dessas frases não podemos dizer serem senão, no mínimo, sintomáticas. Mas do quê?
Se compreendermos a noção de política como o ato de engendrar laço social, clínica é sempre política. A clínica só se compõe através dos atravessamentos do tempo histórico em que está situada e isso inclui, embora não se restrinja, ao espaço físico que compõe o setting, tal qual foi concebido. Se os consultórios, assim como acontece em São Paulo, estão centralizados em bairros de alto poder aquisitivo, seus códigos de endereçamento postais (CEP) determinam também um endereçamento da oferta de escuta que produz efeitos de classe. Se escolher um recorte socioeconômico de classe para um público de analisandos pode ser uma escolha legítima, problemático é, no entanto, desresponsabilizar-se dessa escolha, isto é, esquecer-se de seus determinantes e de suas consequências.
Da psicanálise que não é capaz de reconhecer as questões sintomáticas do seu tempo, dizemos coxinha. E, neste sentido, talvez o que psicanalistas e psicanalisantes coxinhas se esqueçam é que, ainda que de portas fechadas, e entre quatro paredes, não há dentro e fora. Se há
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