A proteção de Medusa

A proteção de Medusa
Detalhe da tela Medusa (1618), de Peter Paul Rubens
  No campo da psicanálise, de onde venho, existem poucas pesquisas especificamente sobre a vulva – a exceção foi uma palestra da editora deste número, Alessandra Affortunati Martins, ministrada em 2023. O órgão mais estudado é a vagina ou, como ficou popularmente conhecida, o furo, a fenda, o buraco. Se pensarmos que a vagina é apenas uma parte desse órgão maior e aparente, podemos começar a analisar a surpreendente transformação de um órgão complexo e composto por múltiplas partes, na invisível marca de uma falta. Pulando a tateante exploração de Freud em “A feminilidade”, de 1933, na qual conclui ter feito um trabalho “incompleto e fragmentário” (afinal, não podemos pedir nem mesmo que Freud explique tudo), seguirei seu conselho: “Interroguem suas próprias vivências, ou dirijam-se aos escritores, ou esperem até que a ciência possa lhes dar informação mais profunda e coerente”. Assim, entremos prontamente nas observações da psicanalista Karen Horney, contemporânea de Freud, que já em 1933 contestava a tese de que o prazer da mulher adulta passaria necessariamente do clitóris para a vagina. Em “A negação da vagina: Uma contribuição para o problema das angústias genitais específicas nas mulheres”, a autora defende que “a ficção da inexistência da vagina é concebida e sustentada durante muito tempo e determina concomitantemente a preferência da menina pelo papel sexual masculino. Todas essas considerações me parecem em grande parte favorecer a hipótese de que, por trás do ‘desconhecimento’ da

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