Por trás da cena

Por trás da cena
Créd.: Rui Mendes

Jhennifer Moises dos Santos

“Eu tenho um vício que é positivamente a loucura. Luto, resisto, grito, debato-me, não quero, não quero, mas o vício vem vindo a rir, toma-me a mão, faz-me inconsciente, apodera-se de mim.” O trecho de “Dentro da Noite”, conto de João do Rio (1881–1921) que dá nome ao monólogo dirigido por Ney Matogrosso e interpretado por Marcos Alvisi, corresponde à primeira parte da encenação e retrata a história de Rodolfo que, em uma conversa com o amigo, fala sobre a relação perturbadora com a namorada, Clotilde. Toda a cena é observada por uma terceira pessoa que, na adaptação, é invisível.

No espetáculo, dividido em dois atos, também é encenado o conto “O Bebê de Tarlatana Rosa”, narrativa repleta de erotismo e elementos grotescos relatados por Heitor, narrador do conto. Ambas as histórias se passam na sociedade carioca de 1908. E, embora o espetáculo marque a grande estreia do cantor e compositor na direção, ele já havia dirigido, em 1980, a peça infantil Estrela de Cinco Pontas, do grupo teatral Umbu.

A escolha do que seria levado aos palcos ficou a critério de Marcos, que fez a seleção ao ler o livro, Dentro da Noite, que traz uma compilação de contos. “Foram os contos que ele mais gostou”, afirma Ney Matogrosso à CULT. Os dois são amigos de longa data, mas esta é a primeira parceria profissional. Segundo Ney, a ideia surgiu ao ver Alvisi encenando textos de João do Rio em uma livraria, há sete anos. “Quando vi, fiquei muito impressionado”, revela. A partir daquele momento, passou a observar as apresentações e propôs assinar a direção do espetáculo.

Acostumado a estar sob a luz dos holofotes, Ney revela a diferença entre ser o centro das atenções e ficar nos bastidores. Para ele, a função do diretor é conduzir o espetáculo da melhor forma possível. “Quando estou dirigindo, estou ajudando aquele ator a descobrir todas as nuances do personagem dele para que possa parecer o melhor possível, para que o ator se destaque”, comenta. E não teve dificuldades para assumir esse posto. Como Marcos também é diretor, “entende o que uma direção deve fazer, o que se espera de um diretor”. Ressalta, ainda, que “o grande prazer foi trabalhar com esses textos maravilhosos do João do Rio”.

Ney Matogrosso considera João “um cronista, um contista e um escritor maravilhoso”. Figura fundamental, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa, Ney acredita “que todos deveriam conhecer”.
Dentro da Noite retorna aos palcos cariocas no dia 29 de janeiro e fica em cartaz até 3 de abril. A peça deve passar por São Paulo no primeiro semestre, mas as datas ainda não foram confirmadas.

Onde: Casa de Cultura Laura Alvim – Teatro Rogério Cardoso – Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema – Rio de Janeiro (RJ)
Quando: de 29 de janeiro a 3 de abril
Quanto: R$ 40, R$ 20 (meia-entrada) e R$ 15 (classe artística)
Info.: (21) 2332-2042 e 2332-2015

(1) Comentário

  1. “Com a mesma falta de vergonha na cara eu procurava alento…” Lobão

    “Eu tenho um vício que é positivamente a loucura. Luto, resisto, grito, debato-me, não quero, não quero, mas o vício vem vindo a rir, toma-me a mão, faz-me inconsciente, apodera-se de mim.” O trecho de “Dentro da Noite”, conto de João do Rio (1881–1921)

    “Caminhou contra as línguas de fogo. Estas não morderam sua carne, estas o acariciaram e o inundaram sem calor e sem combustão. Com alívio, com humilhação, com terror, compreendeu que ele também era uma aparência, que outro o estava sonhando.” Borges, As ruínas circulares

    “Decretam, do alto, uma verdade última, e em seguida despencam na ribanceira de um mero jogo formal e abstrato.” Eduardo Socha

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