Por que releio sempre a Aula de Barthes
Roland Barthes nos anos 1970 (Reprodução)
Por estranho que pareça, meu contato com a Aula de Roland Barthes não se deu no Collège de France, em 1977, quando foi proferida como aula inaugural da cátedra de Semiologia Literária, mas em plena Universidade de São Paulo (USP), onde sua voz pausada, grave, quase sem modulação, nos foi apresentada, em fita cassete, graças a uma oportuna gravação feita por um jovem brasileiro e ofertada a Leyla Perrone-Moisés.
Naquele momento, não me dei conta do quanto aquelas palavras, escorrendo lentamente do gravador, iriam iluminar certos caminhos, que minha geração precisava percorrer para ter uma visão mais ampla, ainda que tensa, do fenômeno literário. Muitos estavam presos à generosa lealdade a uma atividade política, subterrânea ou não, de confrontação com os poderes estabelecidos da revolução de 1964. Para tanto, as correntes conteudísticas, de forte marca social, pareciam dar conta dos impasses entre “mensagem” e “código”, fazendo prevalecer a primeira e apaziguando qualquer má consciência de contemplação estética.
Outros buscavam regressar ao útero materno do texto, alimentando-se apenas de signos e sintagmas. No horizonte, a desumanização os espreitava, solerte e redutora. Fazia-se necessária uma integração complexa e fecunda, que mantivesse a tensão entre os elementos, impregnando-os com as articulações de que sentíamos falta. No meu caso é aí que entra a Aula, à qual sempre volto, como professor de literatura.
Barthes trabalha com o nosso prazer e nossa ética. Qual prazer? O de mergulhar na língua (n
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