Por cima, por baixo
O homem só superou obstáculos ao longo de sua evolução por ser, naturalmente, preocupado. Mas o alto preço que pagou por isso é ter se tornado refém de sua própria inquietude e insatisfação. Essa é a tese defendida pelo filósofo anglo-suíço Alain de Botton, que aplica a tempos atuais uma das premissas centrais da psicanálise – a ansiedade.
Para ele, que vem ao Brasil em novembro para o ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento, o homem contemporâneo vive em uma contínua “ansiedade do status”, que se traduz em “uma preocupação constante sobre nossa permanência no mundo”.
O pano de fundo é a globalização e a desigualdade crescente em âmbito mundial, especialmente nos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). Nessas pujantes economias emergentes, afirma De Botton, a apologia do “chegar lá” é tão generalizada que o indivíduo se sente derrotado se falha – por mais irreal e infundado que seja esse desejo. A crer em De Botton, países como o Brasil são hoje o terreno mais fértil do planeta para as velhas neuroses e psicoses freudianas vicejarem.
CULT – A ansiedade pode explicar a sociedade contemporânea?
Alain de Botton – A humanidade é muito ansiosa porque nossa sobrevivência, em grande medida, é baseada na preocupação. Os ancestrais calmos que acaso tivemos morreram muito tempo atrás; aqueles que sobreviveram foram os nervosos. Descendemos de pessoas que se preocupavam com a maior parte das coisas.
Mas, além do nível habitual de ansiedade em relação à sobrevivência, a sociedade acrescentou um no
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