Presença afropolítica e crítica ao necropoder
O filósofo camaronês Achille Mbembe, autor de 'Políticas da inimizade' (FotoYves Krier/Divulgação)
Políticas da inimizade, de Achille Mbembe se lê como uma considerável façanha de expressão continental, associado ao desejo de dar gume a um “tema ingrato”, de alcance planetário. Ajustando ao caso de outra obra, Crítica da razão negra (2013), haveria outras observações a fazer sobre essas tentativas de prosa voltada “para uma crítica do nosso tempo”: de fato, ambos os volumes descobrem e inventam nexos fortes entre legados coloniais, a escravidão pós-colonial e a “modernidade afropolitana”. E não lhe basta sugerir, de saída, a presença de todo um ossuário no interior desse “elemento”, que é o prenome do livro em pauta.
“Tal osso, tal caveira, tal esqueleto têm nomes – o repovoamento da Terra, a saída da democracia, a sociedade de inimizade, a relação sem desejo, a voz do sangue, o terror e o contraterror como antídoto e veneno de nossa época”; em paralelo, compõem os primeiros capítulos; desenham traçados descontínuos, a mostrar que a inimizade é, atualmente, “o nervo das democracias liberais”; alcançam, de resto, “ligeiros movimentos de retirada seguidos por reversões abruptas”, argumentando que, de um ponto de vista histórico, nem a república de escravos nem o regime imperial eram corpos estranhos à democracia. “Pelo contrário, seriam até a sua matéria luminosa, precisamente a que permitia à democracia sair de si mesma , se preciso, a ditadura contra si mesma, contra os seus inimigos e contra os não semelhantes”.
Logo após a publicação francesa de Políticas da inimizade, na fa
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