A política do “Pixuleco”

A política do “Pixuleco”

As aventuras de um enorme boneco inflável do ex-presidente Lula trajado em uniforme de presidiário, com a inscrição 13-171 (em referência ao crime de estelionato), tornou-se a representação mais bem acabada da empobrecida política brasileira.

Batizado de “Pixuleco” por seus criadores, não por acaso um nome mais parecido com mascote de Copa do Mundo, mas que se refere a propinas investigadas na Operação Lava Jato, o boneco materializa a polarização futebolesca hoje animada por duas forças hegemônicas da política nacional.

De um lado, inflando o boneco, afirma-se uma oposição conservadora cujo único discurso, até agora, tem sido balbuciar ofensas inspiradas por um antipetismo rancoroso, marcado por uma apropriação seletiva da moralidade na coisa pública para criticar a corrupção de apenas um partido. Essa oposição foi derrotada nas últimas eleições e segue sem rumo definido que convirja para um projeto de país. A única bandeira que a unifica é a de impor cada vez mais desgaste à presidenta Dilma e ao PT, equivocando-se redondamente em atribuir ao ex-presidente um crime (de estelionato) em relação ao qual nunca foi condenado ou sequer processado.

De outro, tentando desaparecer com o boneco, um governismo já incapaz de realizar uma autocrítica rigorosa quanto às escolhas equivocadas de uma governabilidade paralisante, financiada por contribuições vultosas das grandes empreiteiras e instituições financeiras, a partir de alianças com os setores mais retrógrados do país e que, agora, cobram sua fatura. Sua maior preocupação, no momento, parece ser esvaziar o boneco inflável a todo custo, como se a tarefa principal das esquerdas fosse inviabilizar manifestações pueris de uma direita imatura e destituída de uma agenda alternativa, já que o governo se empenha em realizar projetos que outrora pertenciam a esses grupos.

Sem uma polarização ideológica consistente que seria salutar pela democracia, a despolitização alcançou seu nível mais crítico com a conversão de um insignificante boneco inflável em um cavalo de batalha.

Simbolismo tem seu papel na política, mas esse não é mais o caso. Nessa polarização infantilizada entre quem protege e quem ataca o Pixuleco nas diversas cidades do país, as questões importantes da realidade nacional ficam relegadas a segundo plano, impedindo a emergências de novas práticas políticas e de uma outra agenda de transformação capaz de bloquear as forças conservadoras e atender às mudanças de que o Brasil precisa.

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