Política de drogas e reparação
(Foto: joão Benz)
Era dia. No salão de um restaurante, ricos e poderosos comiam um brunch. Uns e outros me mediam da cabeça aos pés, sem disfarçar o incômodo com a outsider. Então chega Luciano Huck, acompanhado de alguns assessores, e começa a reunião.
Como jamais faço, pedi a palavra de início. E o que deveria ser uma intervenção rápida e objetiva toma forma de discurso:
“Apesar da violência de estar hoje aqui, com vocês dirigindo a mim os olhares que sempre dirigem, venho por um compromisso, por entender que é muito necessário.
Vocês são o elemento de fronteira entre nós, Coalizão Negra por Direitos, e aqueles que matam 63 jovens negros por dia no Brasil. Vocês têm nas mãos o poder de iniciar uma mudança de paradigma na sociedade brasileira. Com vocês posso conversar, esperando resultados concretos, sobre reparação.
Até algum tempo atrás, eu toparia vir aqui pedir dinheiro para as ações que realizamos em diferentes frentes. Hoje, não acredito mais nesse eterno enxugar de gelo que não muda nada estruturalmente. Os milhares (em alguns casos milhões) que vocês nos entregam para realizar projetos nas favelas, periferias e até no Congresso Nacional se parecem muito com as moedas que nossos antepassados mendigavam nas ruas para não morrerem de fome, mas que nunca mexeram na estrutura. Ao contrário, nos permitiram chegar a 2020 com a mesma estrutura social de 1888: negras e negros na base, nas cadeias, deixados morrer à margem de direitos, executados em praça pública.
Não. Não venho mais pedir dinheiro. Venho aqui hoje falar
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