O polimorfo Pessoa

O polimorfo Pessoa
(Foto: Domínio Público)
  Em 1923, aos 35 anos, Fernando Pessoa – já então um nome central no modernismo lusitano – concedeu a primeira entrevista de sua existência, para A Revista Portuguesa. Respondendo por escrito a perguntas abrangentes sobre arte, cultura e política, Pessoa afirma: “Quem, que seja português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de uma só fé? Que português verdadeiro pode, por exemplo, viver a estreiteza estéril do catolicismo, quando fora dele há que viver todos os protestantismos, todos os credos orientais, todos os paganismos mortos e vivos, fundindo-os portuguesmente no Paganismo Superior? (...) Não queiramos que fora de nós fique um único deus! (…) Ser tudo, de todas as maneiras, porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma coisa! Criemos assim o Paganismo Superior, o Politeísmo Supremo! Na eterna mentira de todos os deuses, só os deuses todos são verdade.”. Esse trecho da entrevista está citado em Pessoa: Uma biografia, de Richard Zenith, pesquisador norte-americano que é um dos mais importantes estudiosos da obra do escritor português. Zenith traduziu livros de poesia pessoana para o inglês, resgatou material inédito – tanto para a biografia recém-lançada quanto para ensaios em que reproduz poemas dispersos em manuscritos ou datiloscritos da célebre arca que guarda os originais de Pessoa – e é organizador de uma edição, também editada recentemente no Brasil, do Livro do desassossego, que, como se sabe, é uma obra póstuma, publicada pela primeira vez em 1982 e composta de t

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