A arquiteta peruana que quer ilustrar as 55 cidades invisíveis de Italo Calvino
Zenobia, de Italo Calvino, por Karina Puente; arquiteta quer ilustrar as 55 cidades criadas pelo autor (Reprodução)
Eufemia, Isidora, Zaira, Zobeda e Tamar são nomes de cidades que não existem. Ao menos, não no mundo real: todas são criações do escritor italiano Italo Calvino, descritas minuciosamente no livro As cidades invisíveis (1972). A obra reúne relatos detalhados feitos por Marco Polo, “o maior viajante de todos os tempos”, ao imperador Kublai Khan sobre as 55 cidades por onde teria passado.
As histórias de Marco Polo servem de inspiração para a arquiteta peruana Karina Puente, que ambiciona ilustrar as cidades imaginadas por Calvino no projeto “55 Cidades [In]visíveis”. Puente já recriou 18 das 55 metrópoles, começando por Isaura, “a cidade dos mil poços sobre um lago subterrâneo”; passando por Diomira, “cidade com sessenta cúpulas de prata”; Anastácia,“banhada por canais concêntricos e sobrevoada por pipas”; Doroteia, cuja estrutura social “está ligada aos seus portões, às suas pontes e aos seus canais”; e outras, retiradas de diferentes partes do livro.
“Como urbanista, uma das coisas que me interessa mais profundamente é o poder de troca de conhecimento que existe nas cidades, além da multiplicidade e da diversidade sociocultural que se testemunha ali. Quanto mais frenética a cidade, mais ela me interessa. Há algo mágico sobre pessoas vivendo juntas”, escreveu no blog em que compartilha rascunhos, trechos do livro e detalhes do processo de criação.
Agora, Puente trabalha na representação da cidade de Cloe, descrita como uma megalópole tão imensa que as pessoas que passam pelas ruas nem mesmo se reconhecem: “Quando se vêem, imaginam mil coisas a respeito umas das outras, os encontros que poderiam ocorrer entre elas, as conversas, as surpresas, as carícias, as mordidas. Mas ninguém se cumprimenta”. Todas as ilustrações são feitas à mão, sobre papel, e apenas coloridas digitalmente.
O projeto começou em 2014, quando a arquiteta se viu cansada de projetar residências privadas e iniciou um projeto urbanístico junto à prefeitura de Lima. Em casa, desenhava as partes da cidade que visitava durante o trabalho, entre casas, edifícios, favelas e lojas. O hábito trouxe à lembrança a obra de Calvino, que lera na faculdade – e que, ao reler, a fez “explodir de criatividade”.
A artista imagina que Calvino não teria gostado de suas experimentações. “Imagino ele fazendo gestos ofensivos com as mãos, típicos dos italianos, e dizendo ‘como se atreve?’. Mas eu me atrevo porque é um experimento e simplesmente porque tenho adorado fazer isso”, disse em uma entrevista ao portal Kindle.