Para uma crítica da economia política do futuro cancelado
Edição do mêsMuçum, uma das cidades mais afetadas pelas chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024 (Bruno Peres/Agência Brasil)
Há 15 anos, Mark Fisher decretava o “cancelamento do futuro” na sua breve, porém arguta, análise do capitalismo contemporâneo vista em seu Realismo capitalista. A presciência e a justeza desse livro podem ser aferidas pelo fato de que sua narrativa talvez soe ainda mais aguda hoje do que ontem. A vitória completa dos mercados como fundamento de todos os planos da vida não apenas se manteve, como ainda recrudesceu. Com ela, intensificaram-se fenômenos como “a privatização do sofrimento e a individualização da angústia”, em que “quem não sofre o bastante é privilegiado”, ou ainda a ideia de que “todo trabalhador se torna seu próprio auditor”, tudo isso alimentando tanto o “desinvestimento subjetivo que ajuda no trabalho cotidiano sem sentido e desmoralizante” quanto a impossibilidade de “planejar nada que não sejam as tarefas imediatas”.
Narra-se, assim, um quadro que parece tão ou mais próprio de 2024 do que de 2009. O cancelamento do futuro parece mesmo ter vindo para ficar, com sua sensação de eterna repetição do mesmo e de prisão da vida e da imaginação num sufocante “presente contínuo”, numa eterna “corrida para ficar no mesmo lugar”. Vive-se, assim, num frenético culto ao novo que, no fundo, não tem nada de novo. Na imagem precisa de Fisher, “realidades e identidades se atualizam como softwares”. Isso tudo escrito ainda antes da virtualização forçada da pandemia e da generalização de redes sociais e aplicativos como uma materialidade decisiva do cotidiano dentro e fora do trabalho. Ao co
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