Para Gretel Adorno
Gretel Adorno (Foto: Wikimedia Commons)
Clos Saint-Joseph Nevers (Nièvre), 12 de outubro de 1939.
Campo de trabalhos voluntários
Minha muito querida,
Nesta noite sobre a palha tive um sonho de uma beleza tal que não resisto à vontade de te contar. Há tão poucas coisas belas ou apenas agradáveis que poderiam te entreter. Esse é um dos sonhos que tenho tido talvez a cada cinco anos e que são bordados em torno do motivo “ler”. Teddie se lembrará do papel desse motivo em minhas reflexões sobre o conhecimento. A frase que pronunciei distintamente por volta do fim desse sonho aconteceu de ser em francês, razão dupla para te fazer esta narrativa na mesma língua. O doutor Dausse, que me acompanha nesse sonho, é um amigo que cuidou de mim durante meu paludismo.
Encontrava-me com Dausse na companhia de várias pessoas das quais não me lembro. Em dado momento, deixamos essa companhia, Dausse e eu. Depois de nos separarmos dos outros, nos encontramos numa escavação. Percebi que quase ao rés do chão havia um estranho gênero de camadas (couches). Elas tinham a forma e o tamanho de sarcófagos; também pareciam ser feitas de pedra. Mas, ao me ajoelhar, percebi que afundava aí molemente, como num leito. Elas estavam cobertas de musgo e de hera. Eu vi que essas camas (couches) estavam distribuídas duas a duas. No instante em que pensei em me estender sobre aquela que se avizinhava a uma cama que me parecia destinada a Dausse, dei-me conta de que sua cabeceira estava já ocupada por outras pessoas. Nós retomamos então nosso caminho. O lugar assemelhava-se sempre a uma floresta; mas havi
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