Pandemia: a antítese entre sociedade e mercado

Pandemia: a antítese entre sociedade e mercado
  As forças da natureza são obviamente indiferentes a modos de produção, tempo e espaço. Mas são as estruturas sociais que determinam as consequências, o grau de sofrimento e quem morre mais. Em 1989, o terremoto de São Francisco, de intensidade 7,1 graus na escala Richter, causou a morte de 63 pessoas e deixou cerca de 3.700 feridos. Em 2010, o terremoto em Porto Príncipe, no Haiti, magnitude 7 na escala Richter, matou mais de 300 mil pessoas e deixou outros 300 mil feridos. Dez meses depois, uma epidemia de cólera matou 9 mil. Quando a natureza atinge a existência humana, o impulso primário é buscar o culpado mais à mão no imaginário. Pode ser Deus, a cruel natureza ou o enigmático ente a que se denomina destino. Mas muito frequentemente destino é uma expressão que encobre com um véu de irracionalidade o que é apenas obra humana. Quando um terremoto atingiu Lisboa em 1755 matando algo entre 70 e 90 mil pessoas e destruindo 12 mil edifícios, Voltaire conjecturou sobre Deus em Poema sobre o desastre de Lisboa e aproveitou o ensejo para atingir seus adversários filosóficos. Ou o homem nasceu culpado e Deus pune sua raça, ou esse senhor absoluto do ser e do espaço, sem furor, sem piedade, tranquilo, indiferente, segue a eterna torrente de seus primeiros decretos. Em Carta sobre a providência, Rousseau respondeu que não foi a natureza que reuniu 20 mil casas de seis a sete andares e que “se os habitantes dessa grande cidade estivessem melhor distribuídos e possuíssem menos coisas, o dano teria sido muito menor, ou talvez nulo”. O

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