Os sofrimentos do jovem Trevisan

Os sofrimentos do jovem Trevisan
O escritor e ativista LGBT João Silvério Trevisan (Pedro Stephan/Divulgação)
  Mesmo para um homem habituado ao confronto, autor de uma obra nunca respeitada como literária e de uma vida marcada pela militância política LGBT, a batalha recente foi dilacerante. “Não sobrou nada de mim”, afirma o escritor João Silvério Trevisan, com a voz tranquila e em consonância com sua expressão facial. Aos 73 anos, o autor conquistou a paz – quiçá provisória – após o confronto com a figura que determinou sua vida por meio da ausência: José Trevisan, aquele “a quem eu gostaria de ter amado – como se ama um pai”, como diz no início do romance autobiográfico Pai, Pai (Alfaguara, 259 p.), lançado no final de setembro. “Tal amor não me foi permitido.” Mas o perdão, enfim, conquistado. “Foi perturbadora a evolução que vivi durante a escritura”, conta, em entrevista à CULT, em seu apartamento no Centro de São Paulo. Escrito ao longo de cinco anos, a partir de diários, anotações e memórias, o livro foi uma descoberta violenta da dor, segundo seu próprio autor. Dividido em capítulos curtos, que alternam de modo não linear diferentes momentos de sua vida, Pai, Pai é a narrativa da formação de um filho em busca de um pai não apenas ausente, mas em processo de destruição. Algo imperceptível para uma criança. Descendente de uma família da região do Vêneto, no norte da Itália, José era o filho preferido de Maria Martin, avó de João. Rapaz sensível, fã das canções dramáticas de Vicente Celestino, tornou-se um homem em “lento suicídio”, como o autor escreve no livro, após o rompimento com

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