Os muitos corpos de Qorpo-Santo
O dramaturgo José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Qorpo-Santo (Arte Andreia Freire/Revista CULT)
Em tempos tão kafkanianos, absurdos, é fundamental resgatar a vida e obra de José Joaquim de Campos Leão (1829-1883), mais conhecido como Qorpo-Santo. Agora em abril comemora-se os 190 anos do nascimento desse ariano de Triunfo, no Rio Grande do Sul, que também foi comerciante, professor, vereador e delegado, e é considerado o precursor do Teatro do Absurdo – décadas antes de surgirem as obras de Beckett, Ionesco, Harold Pinter e Arrabal.
Comparadas com as peças de outros autores e dramaturgos de sua época, como Sousândrade, Martins Pena, Gonçalves de Magalhães e Artur Azevedo, as obras do autor gaúcho trazem a marca do insólito, anárquico, quase surrealista, que alguns críticos nomearam de “fora do esquadro”.
Em uma delas – A separação de dois esposos (o título em si já é algo inusitado para a época, 1866) –, os personagens Tatu e Tamanduá formam o primeiro casal homossexual da dramaturgia brasileira. Em outra, As relações naturais, há personagens prostitutas – algo incomum para o teatro brasileiro da época –, além de insinuações de incesto. Uma montagem da peça em 1968, no Rio de Janeiro, dirigida por Luiz Carlos Maciel, atraiu a atenção da polícia e acabou por ser proibida pela Censura Federal, em plena ditadura. Foi nessa época que o crítico Yan Michalski, referência no país, escreveu que a redescoberta do autor “torna parcialmente obsoletos todos os livros de história da dramaturgia brasileira”.
São 17 peças cheias de nonsense, cujas personagens perdem partes do corpo no decorrer do espetáculo e apa
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