Os fantasmas de Cadão Volpato
Cadão Volpato: a distração dos homens foi o ponto de partida para seu primeiro romance (Foto Antonio Xerxenesky / Divulgação)
Conta o escritor Cadão Volpato que escreveu seu primeiro romance em dois meses e meio. Todos os dias, quando os filhos já estavam na escola, punha-se diante do computador para trabalhar e tecer sua história. O ritmo se estabeleceu assim: tinha de escrever 4 páginas por dia, ou seja, 8 mil caracteres. Chegou a passar uma semana em Paraty, durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), onde iria mediar uma mesa, mas não deixou de lado sua tarefa: tomava o café, sentava-se numa área qualquer do hotel, com o computador aberto, e, espantando vez ou outra algum mosquito faminto, continuava a travessia de seus dois personagens: um argentino taxista, conhecido no ponto por Tortoni, e um brasileiro, chamado Rivoli, que mais parecia um sueco, um homem de um metro e noventa e três, loiro, de olhos azuis, curvado como o Monsieur Hulot do cineasta francês Jacques Tati, uma das paixões de Volpato.
A história dessas duas personagens que acabam se encontrando num dos tantos acasos da vida (mas nem tão acaso assim quando se trata de ficção) é o eixo de Pessoas que passam pelos sonhos, o primeiro romance de Volpato – autor de quatro livros de contos, e que na juventude foi letrista e vocalista da banda Fellini. Mas por que um argentino e um brasileiro? A resposta parece estar no período abordado pela narrativa: 1969, na primeira parte do livro, quando os dois se conhecem, e 1979, na segunda parte, quando Tortoni manda seu filho Francesco e uma colega dele para a casa de Rivoli, no Brasil, escapando da repressão argentina. Ou seja, o pano de fundo é a
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