Orson Welles 100 anos: Inacabado e incômodo
Cortesia da University of Michigan Library (Special Collection). Imagem do livro Orson Welles: Banda de um homem só, Rio de Janeiro, Editora Azougue, 2015
Comemorar os 100 anos do nascimento de Orson Welles, além do aspecto memorialístico, implica em discutir uma vida e uma obra cheias de lacunas e de mistérios. Como muitos de seus personagens, ele foi e é, ainda, um enigma. George Orson Welles teve muitas vidas. Ou, pelo menos, duas.
Em uma delas, foi uma celebridade: nos palcos, em carreira meteórica a partir dos 17 anos; no rádio, criou novas formas de comunicação e provocou um estado de caos nos EUA, com A guerra dos mundos; no cinema, assinou o mais generoso contrato que jamais diretor algum assinaria com Hollywood, que o levou a dirigir, aos 25 anos, Cidadão Kane, marco do cinema moderno; na política, aliado importante do New Deal de Franklin Delano Roosevelt; enfim, um diretor decisivo na transformação do cinema europeu, nos anos 1950 e 1960, influenciando diretamente e interagindo com diretores da Nouvelle Vague, dos novos cinemas europeus, e do “terceiro mundo” (Glauber Rocha, Paulo Emílio Salles Gomes, e Vinicius de Moraes o atestam).
Na outra vida, foi um homem marcado, desde a infância, por instabilidades emocionais; por casamentos e relacionamentos que não deram certo; por inimizades e traições; por uma vida boêmia, errante e sem domicílio – Welles passou sua vida em hotéis. A maior parte de suas obras foi recusada ou mutilada, e deixou uma fileira tão grande quanto impressionante de projetos inacabados. Essa obra fragmentária, hoje em arquivos, ajuda a repensar o legado de Welles.
Se é verdade que a relação entre a obra e o homem é importante para atingir a compreensã
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