Oriente de Borges
Jaqueline Gutierres
“As mil e uma noites é um livro tão importante, tão vasto, que nem é preciso lê-lo. Se encaixa entre os clássicos que, de tão conhecidos, você nunca lê, só relê”, definiu Mamede Jarouche, professor e tradutor da obra para o português. O painel “As 1001 noites (d)e Jorge Luis Borges” contou, além de Jarouche, com as presenças do biógrafo Edwin Williamson, autor de Borges, uma vida (Cia. das Letras), e do tradutor israelense Ioram Melcer. Ao tratar da influência oriental na escrita de Borges, o painel dialogava também com o tema central da 7ª edição da Fliporto, “Uma viagem ao oriente”.
“A obra é uma introdução à região, quando se lê em Buenos Aires, cidade para que grande parte do mundo é oriente. Mas As mil e uma noites serve, na verdade, como uma viagem potencial não para o oriente, mas para o orientalismo”, comentou Melcer. Segundo Williamson, o que maravilhava Borges na obra eram exatamente esses traços não ocidentais, “ele dizia que tudo o que é distante, é belo e poético. Esse era o poder dos contos orientais, eram exóticos para ele”. Williamson ainda falou sobre suas descobertas durante a escrita da biografia,“o destino era um tema que obcecava Borges, e As mil e uma noites é apaixonante para ele, porque na obra um herói pode definir seu destino em um único ato. São infinitas maneiras de sobreviver à morte, adiar a morte, contando histórias”.
Já na opinião de Jarouche, Borges se identificava com o fato de serem histórias pequenas. “A obra dele tem movimento, ele gostava de narrar eventos. Por isso, não escreveu romances, dizia que melhor do que escrevê-los era pensar como seriam e fazer resenhas.” Melcer complementou com um breve histórico, “há algo que não existia com força nas culturas orientais até o século XX, os romances. Por isso, acho que Borges encontrou nas produções orientais um tipo de escrita que era como a dele”.