Orides Fontela e a filosofia
Retrato de Orides Fontela por Fritz Nagib a pedido de Augusto Massi para uma coleção de poetas contemporâneos (Foto: Fritz Nagib)
A aluna de filosofia
Orides Fontela foi minha aluna no curso de Filosofia no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, portanto, no período mais duro do terror de Estado, sob o Ato Institucional n. 5. O Departamento de Filosofia estava sem seus principais professores – alguns cassados, outros exilados, os professores franceses regressados à França. Por isso, sob a direção de Dona Gilda Rocha de Mello e Souza, éramos um punhado de jovens professores, alguns apenas com mestrado e outros sem até essa titulação.
Entre 1969 e 1972, por prudência, nossos cursos evitavam o tratamento direto de questões políticas, que eram abordadas indireta e veladamente por meio de outros temas, em particular o da linguagem. Luiz Roberto Salinas Fortes dava cursos sobre Rousseau (a origem das línguas) e Diderot (o paradoxo do ator); Victor Knoll falava sobre a poética de Mário de Andrade; eu oferecia cursos sobre o mistério da linguagem em Merleau-Ponty; Maria Sylvia de Carvalho Franco dava aulas sobre Guimarães Rosa; Léon Kossovitch, sobre a linguagem em Nietzsche; Rubens Rodrigues Torres Filho, poeta, deu cursos sobre Kant e Fichte. Um pouco mais tarde, Oswaldo Porchat (recém-chegado dos Estados Unidos) falava sobre lógica e filosofia analítica. Faço essas referências porque, de maneira por vezes irregular, Orides fez esses cursos, e penso que ela se interessava por eles, por lhe permitirem uma expansão do que ela buscava em e com sua poesia.
Menciono especialmente Merleau-Ponty porque ele fala em prodígio da linguagem: a linguagem exprime perfei
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