Ópera ianomâmi

Ópera ianomâmi
Segunda parte: A queda

A devastação da Floresta Amazônica e as formas de chamar a atenção da sociedade para que medidas mais urgentes sejam tomadas em prol do meio ambiente são aspectos abordados pela ópera Amazônia – Teatro Música em Três Partes. O teatro musical já passou pela XII Bienal de Munique e neste mês é apresentado no Sesc Pompeia, em São Paulo. Bruce Albert, doutor em antropologia pela Universidade de Paris X, trabalha com os ianomâmis do Brasil desde 1975 e intermediou a relação entre os índios e os homens brancos envolvidos no projeto. Segundo ele, “a proposta do espetáculo é falar da destruição da Floresta Amazônica e de suas consequências para seus habitantes e para o mundo de uma maneira sensível, utilizando música e imagem e não, como habitualmente, via escrita, números e conceitos”. Leia abaixo a entrevista concedida à CULT.

CULT – Como levar a cultura dos índios para os palcos sem carregar nos estereótipos sobre os índios brasileiros?
Albert –
A maneira de escapar da armadilha óbvia do exotismo foi levar os ianomâmis a sério e conversar com eles em pé de igualdade. Levaram-se ao palco, na medida do possível, seus conceitos e relatos e não uma imagem folclorizada que geralmente reduzimos a um indigente cartão-postal de urucum e plumas, o que só reflete a pobreza de nosso pensamento.

CULT – Por que dividir o espetáculo em três partes?
Albert –
Para oferecer o cruzamento de três perspectivas sobre o assunto: uma perspectiva histórica, uma inspirada na visão xamânica dos ianomâmis e outra tecnocientífica.

CULT – Como ocorreu o contato com os índios ianomâmis? De que forma eles contribuíram para a produção do espetáculo?
Albert –
O contato com os ianomâmis passou pelo líder e xamã Davi Kopenawa e por minha intermediação. A participação dos índios ocorreu em várias reuniões e workshops de trabalho com os artistas, compositores, dramaturgos e cenógrafos do projeto. Passamos uma temporada juntos numa aldeia ianomâmi do Amazonas improvisando um workshop intercultural, durante o qual os ianomâmis contaram a história de seu povo, descreveram sua cosmologia e mostraram seu trabalho de xamãs. Um grupo de xamãs ianomâmis também visitou os parceiros alemães do projeto em Munique e Karlsruhe [Alemanha].

CULT – De que forma os índios ianomâmis estão integrados aos chamados “avanços” da sociedade brasileira?
Albert –
Mais que integrados aos “avanços” da sociedade, os ianomâmis são, sobretudo, afetados por seus “desavanços”. Estão sofrendo, em suas terras, o impacto das atividades predatórias do suposto desenvolvimento da Amazônia: veem seus rios poluídos e suas crianças morrendo de pneumonia ou de malária por causa das invasões garimpeiras; veem a sua floresta desmatada pelos fazendeiros, os seus recursos afetados pelas mudanças climáticas com secas cada vez mais drásticas. Participar de projetos como este faz parte da luta pela defesa de seu território e de sua cultura, lutas para as quais o canal da cultura passou a ser hoje um vetor político de primeira importância.

Amazônia – Teatro Música em Três Partes
Onde: Sesc Pompeia Rua Clélia, 93 – Pompeia – São Paulo (SP)
Quando: 21 a 25 de julho, quarta a sábado 20h e domingo 19h
Quanto: R$ 7,50 a R$ 30
Duração total (três partes): 210 minutos

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