Onde está a vulva?

Onde está a vulva?
Detalhe da tela "A origem do mundo" (1866), de Gustave Courbet
  Limite anatômico não é destino, diferentemente do que supôs Freud. Como modo de traduzir arranjos subjetivos que se articulam de laços sociais, a psicanálise estabeleceu seu edifício teórico-clínico sobre bases binárias. Nelas, o lugar do homem, dotado de pênis, assumiu centralidade; como nota Irigaray, a mulher se tornou reflexo borrado da figura masculina. Vista como ferida, a vulva sinalizava a amputação do pênis. Causava repulsa. Limitava-se a indicar ausência incontornável do que o Outro possuiria de mais valioso. O fantasma de perder o pênis moldava cenas tenebrosas no imaginário do garotinho ou exigia dele soluções fetichistas. Destituída do único órgão desejável, à mulher restava a voz ressentida da insatisfação histérica; o desejo invejoso do falo moldou recortes da escuta freudiana. De vários prismas, nota-se como caminhos desviantes da lógica fálica acabaram soterrados pelo campo teórico-clínico psicanalítico. É inegável que, em certa medida, a psicanálise se orientou por conceder relevo ao falo, ratificando por meio de tal estratégia o poder patriarcal. Com sotaque misógino, articularam-se a fase genital e a angústia de castração, o complexo de Édipo e, sobretudo, a exclusão das mulheres da política sob os efeitos da morte do pai em nome da lei, dos rituais em torno de sua ausência e do laço entre homens pela troca de mulheres. O fundamento básico dessa arquitetura da subjetividade e da civilização está na dicotomia homem-mulher. Seja como for, se o olhar voltado para essas construções se diri

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