Olho de Vidro – A televisão e o Estado de Exceção da Imagem
Meu livro Olho de Vidro (Record, 2011) começa com a descrição desse vídeo
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Olho de Vidro
Doll Face é um vídeo de 2005 de 4’ e 12’’ de Andrew Huang que narra o encontro de um robô com uma televisão.
O monitor da televisão está diante de uma caixa que se abre por meio de uma engrenagem auto-ativada. De dentro dela surge um rosto de moça delimitado entre queixo e testa, sem orelhas ou cabelos, adaptado a um mecanismo que lhe serve de corpo. A televisão é ligada quando o rosto direcionado para a televisão abre os olhos como um botão que se aciona sozinho. As imagens confusas da televisão fixam-se em um rosto igual ao do robô como se diante dela estivesse um espelho. O rosto de moça ligado à engrenagem mostra interessar-se pela imagem no monitor por meio de movimentos sutis da face que correspondem a sinais de inteligência e de afeto. Com as pinças próprias de seu corpo-máquina, ela libera do centro de sua cabeça um batom com o qual torna vermelhos os lábios, bem como outros apetrechos de maquiagem com os quais vai eliminando o tom de cinza que lhe é próprio enquanto copia o rosto colorido do monitor. A cada vez que o monitor se afasta confundido as imagens o mecanismo se expande para alcançá-lo num evidente esforço de retomar a imagem espelhada de si mesmo. No meio do processo de maquiagem uma das pinças coloca um olho de vidro em um dos globos oculares onde antes parecia haver dois olhos obscuros, não apenas cavidades vazias. O monitor se afasta algumas vezes enquanto o mecanismo corporal é incitado pela boneca a atingir uma altura cada vez maior que a aproxime do monitor. Seu rosto demonstra toda a noção do perigo que ela corre. O nível de dificuldade cresce e ela avança por pequenos impulsos que mostram a íntima relação entre o rosto e a máquina, até que, no último e mais vigoroso impulso, a engrenagem se arrebenta no ar e cai ao chão. O rosto de louça feito máscara partida ao meio jaz com o mesmo olho de vidro ainda intacto na cavidade ocular. Narciso morre enquanto ele mesmo é máscara diante da facialidade sem rosto da televisão.
(5) Comentários
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Essa lacuna entre quem esta transmitindo e quem esta assistindo e muito estranha.
Está na fila de espera, ainda estou n’ O Manto. Tentei lê em paralelo, mas, não deu, O Manto é vastíssimo! Chegarei lá! Você é genial!
Quero muito ler este seu livro, no pagamento compro!:)
Oi Márcia, sou de Portugal, e tenho gostado muito de ver entrevistas suas que estão no youtube, é interessantíssimo ouvir você falar, e com certeza vou ler esse seu livro (embora não tenha certeza que haja cá em portugal…)
Eu gostaria de te perguntar sobre esse tema da televisão, eu concordo bastante com o que voce diz, mas eu queria saber se voce não acha que o problema não está só nas pessoas que escolhem os conteúdos programáticos, mas está também nos proprios telespectadores, que são afinal aqueles que dão as tão desejadas audiencias para os empresários! porque na verdade, a televisão não obriga as pessoas a verem os programas, as pessoas podem escolher se querem ver ou não, não é? Isso faz parte da democracia.. E porque é que por exemplo o BBB tem tantas edições, porque o programa tem audiencias, certo?
E por outro lado também, com a enorme variedade de canais a cabo que existem hoje em dia, voce acha que a televisão continua com esse poder de monopolizar os conteudos que são transmitidos?
Muito obrigada! ( e desde já, as minhas questões são puramente do meu senso comum, pois não tenho nenhuma qualificação no assunto).