oficina literária | eles chamam de alopecia androgenética eu chamo de maldição
Fernando Saraiva (Wikimedia Commons, Rdne Stock Project/Pexels, Library Of Congress)
meus cabelos crescem feito sonho elaborado
à revelia da queda que teima em lembrar que
o corpo é uma selva
terreno poroso
e pra sobreviver à selva é preciso
aprender a ser parte dela
integrá-la
os cabelos caem como as memórias
viram esquecimento
vão-se e ficam os vãos
do maior comprimento já não me lembro
ao cabelo grande me foi tirado o direito
como ao gênero ao sexo ao beijo
e ao afeto amor-novela
mas teimando com tudo ele cresce
o cabelo
ele cresce meio troncho
feio mesmo vai crescendo como a feiura
se adapta ao belo pra ficar
estranha exótica incomum
arrumada no truque
fio a fio segue
tentando não fracassar no percurso
orelhas ombros costas abaixo
almeja a tão sonhada nádega
ansiando a profecia do
cabelo batendo na bunda
é um dizer
o cabelo diz que o passado que não
se tem de volta revisitado pode ser tinta
hoje
pinta um possível
diz sim à esperança do crescimento
ainda que folículo abrindo caminho
na epiderme do não
não
essa palavra calva
de sonhos
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