Privado: Oficina Literária
Felicidade
“Um homem feliz não escreve romance”
Carlos Heitor Cony
Estarei deixando de ser feliz,
para escrever poemas?
Para escrever poemas,
serei infeliz como antes, circunstancialmente.
Serei infeliz como um dia ou outro, outrora.
Serei infeliz como verdadeiramente os infelizes.
Serei tão infeliz quanto
o mais possível infeliz.
Então,
escreverei um tanto de poesia
e morrerei.
Estarei, enfim, deixando de escrever poemas
para ser feliz.
Declaração
Para Carmen, por óbvio,
há trinta anos.
Amo em ti a ausência de mim,
o não medo. Amo em ti tudo
o que não sou, o que me falta.
Amo em ti o que não é José,
mas Maria, o que não é Apolo,
mas Dionísio, o que não cala,
mas fala. Amo a ti,
porque és instante e inventiva
loucura, porque és improviso,
irresponsavelmente feliz.
Amo em ti o que é gitano.
Em verdade, Carmen,
Amo em ti
o que não é espelho.
Poeta morto
Morto,
lerei poemas escritos à minha morte.
Terei tempo
para todas as coisas.
Serei eterno
em espaço
e tempo
como verso não vindo.
Não serei eu
e os outros.
Serão eles
a sós.
Morto,
não precisarei de sapatos,
terei os pés que quiser.
Dirão (de mim): morreu.
José Osterno Campos de Araújo é professor do UniCEUB, em Brasília (DF)
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »