O testemunho de Auschwitz

O testemunho de Auschwitz
A entrada de Auschwitz (Reprodução)
  Ruth Klüger inicia o seu livro autobiográfico weiter leben (continuar vivendo, publicado no Brasil com o título Paisagens da memória. Autobiografia de uma sobrevivente do Holocausto, Ed. 34) com a seguinte epígrafe extraída de uma obra de Simone Weil: “Suportar a desproporção entre a imaginação e o fato. ‘Eu sofro.’ Isso é melhor que: ‘Esta paisagem é feia.’”. Essa obra de Klüger foi escrita e publicada apenas em 1992, portanto após quase meio século de sua libertação do Campo de Concentração. Quanto a essa temporalidade “atrasada” ela escreveu: “Talvez o recalque tenha sido um primeiro passo para o domínio ” do passado. Esse período foi o tempo necessário para ela trabalhar as emoções mobilizadas pela sua experiência concentracionária e de guerra. Essa pausa foi também o que permitiu a reflexão sobre a diferença entre imaginação e fato, permitiu aproximar o elemento subjetivo (“Eu sofro”), da objetividade avassaladora da experiência do campo de concentração. Essa temporalidade, típica daquilo que Freud denominou de Nachträglichkeit, a decalagem temporal típica da experiência do trauma, foi o período de incubação de uma memória encriptada. Esse quisto mnemônico foi sendo desatado lentamente, até se “resolver” na escritura de uma obra onde subjetividade e realidade se combinam, com a certeza de que a “totalidade” da representação é impossível. Paul Ricœur, em sua obra monumental sobre memória, história, esquecimento (Ed. UNICAMP), entre muitas reflexões valiosas, recorda que devem

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