O racismo nos relacionamentos inter-raciais
Denise Lima, 25: A experiência de se relacionar com pessoas brancas se resume em não saber se ela vai te assumir (Foto Gabriel Rao)
Julia Bispo “foi barrada” na festa de aniversário do então namorado: “Fiquei o dia inteiro em casa esperando. Quando ele apareceu, disse não ter me buscado para evitar que eu me sentisse mal na presença deles. Já ia fazer dois anos que estávamos juntos”. Jovem e negra, ela só percebeu o peso do preconceito após o fim do relacionamento. A ex-sogra nunca escondeu sua desaprovação, ao passo que ele a excluía sistematicamente de encontros com a família, de origem espanhola e italiana. Julia lidou com a situação como muitas e muitos que são obrigados a encarar o racismo de frente: “Isso vem da minha própria criação. Minha família também foi ensinada que os negros se vitimizam e devem esquecer estas situações. Eu achava que era só pirraça da família dele”.
Para ela, a chance de “ascender na vida” estava em se relacionar com rapazes brancos, o que também aprendeu em casa: “Diziam que mulher negra chama atenção de europeu. Às vezes acho que estou renegando minhas raízes ou traindo o movimento negro por gostar de um cara branco. Sabe a Sam White da Dear white people? Me vejo na mesma situação que ela”, conta.
Hoje, aos 21 anos, Julia reconhece que seu olhar foi educado a enxergar brancura como sinônimo de beleza, o que resultou com que não se atraísse por homens negros e consequentemente não visse beleza em sua própria negritude. Esse é um fator presente em 100% dos relatos que ouvi. Com os cachos assumidos há pouco mais de um ano, ela relembra que por dez anos foi refém de seu cabelo. Para sentir-se bonita, alis
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