O que fala essa língua?
O escritor e jornalista salvadorenho Horacio Castellanos Moya (Reprodução)
“Pedra sobre pedra tornou-se página a página um conceito antigo. O mundo para onde Asco nos leva é o da demolição”, observa a escritora Adriana Lunardi em seu posfácio à edição brasileira de Asco: Thomas Bernhard em San Salvador, de Horacio Castellanos Moya, escritor e jornalista salvadorenho (mas nascido em Honduras) e que pela primeira vez é publicado no Brasil. O livro, de pouco mais de cem páginas, é a reprodução de um monólogo de um salvadorenho que há 18 anos não retornava à terra natal e que, com a morte da mãe, se vê obrigado a revisitar o passado e o presente do seu país de origem. Ele fala desbragadamente para um interlocutor, nomeado no livro como “Moya”, alter-ego do próprio autor.
Neste romance, a capital salvadorenha, San Salvador, é o centro nervoso e a vítima de um discurso virulento do personagem Edgardo Vega. Ele está no terraço de um bar, tomando um uísque, e tem diante de si um amigo que não vê há mais de 18 anos, o Moya, que será o seu interlocutor mudo e responsável pela reprodução desse desabafo para o leitor.
Barbárie dos trópicos
Logo de saída, os resmungos começam: ele reclama da mania do salvadorenho de tomar cerveja – “essa cerveja nojenta, feita para animais, e que só dá diarreia”. Em pouco tempo, ele esclarece o motivo do encontro: “preciso dizer o que penso de toda essa imundície”. Sim, estamos diante de um desabafo, um discurso que irá demolir cada pilar da vida salvadorenha. Vega é um intelectual, professor de história da arte na Universidade McGill, no Canadá, onde v
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