O preço da fama

O preço da fama

 

Francisco Quinteiro Pires, de Nova York 

 Joel Stones está tendo dificuldades com a fama. Quando visita os sebos de discos no Brasil, ele e sua cabeleira black power  são logo reconhecidos pelos vendedores. “Acham que estou fazendo fortuna em Nova York e por isso cobram mais caro”, diz. Joel  é o dono da Tropicalia in Furs (Tropicalia em Peles), loja de vinis no East Village procurada por colecionadores, DJs e  celebridades. “Agora, é mais um ponto turístico do que um estabelecimento comercial.” 

Especializada em discos brasileiros dos anos 1960 e 1970, a loja recentemente negociou o disco mais caro da música nacional.  Joel vendeu para um comprador da Califórnia um compacto de O’Seis (pré-Os Mutantes) por US$ 5 mil, feito registrado no  documentário Beyond Ipanema (Além de Ipanema), de 2009. 

A Tropicalia in Furs (www.tropicaliainfurs.com) nasceu no porão alagado da loja de discos Norman’s Sound & Vision há dez  anos, quando Joel era engraxate. Ele lustrava os sapatos de funcionários do banco Goldman Sachs, tirava até US$ 300 por dia,  mas “não era o que queria”. E foi quando descobriu que um LP do Bossa Três, de US$ 2,99, podia ser vendido por US$ 300. 

A coleção inicial de 600 discos multiplicou-se no porão. Quando Joel saiu de lá, em 2005, seu estoque chegava a mais de 10  mil. Hoje, a loja abriga cerca de 15 mil discos, está na Rua 5, entre as Avenidas 1 e 2, e recebe celebridades como Elijah  Wood, Matt Dillon e Mike D. (do Beastie Boys). 

Jeitinho brasileiro
Joel Stones, apelido que o paulista Joel dos Santos Oliveira, 39 anos, adotou por causa da banda Rolling Stones, é muito  querido por oferecer aos clientes um atendimento diferente de outros sebos nova-iorquinos. “Quando fazem festas, os DJs me  procuram para montar a lista de músicas brasileiras.” No ano passado, Joel lançou Brazilian Guitar Fuzz Bananas, coletânea de  composiçõesraras do rock psicodélico nacional. Os mil vinis esgotaram-se em três semanas. 

Ao entrar na loja, vale a pena estar à toa para receber o atendimento à antiga. Os “tesouros” da coleção não ficam expostos,  mas são negociados caso a caso. “Eu ganharia mais dinheiro vendendo pela internet, mas aí viveria apenas com discos e  computador.” A lábia do vendedor vale tanto quanto a raridade do produto. “Disco é do amor, da arte”, teoriza Joel,  satisfeito com a realização de um sonho concebido há mais de dez anos com US$ 13 no bolso. 


 


 


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