O plástico essencial

O plástico essencial
A filósofa Marcia Tiburi (Foto: Simone Marinho/Divulgação)
  Em sua “Ode triunfal”, Álvaro de Campos, heterônimo modernista de Fernando Pessoa, faz um elogio maravilhado da “beleza disto totalmente desconhecida dos antigos”. No clima de êxtase com o progresso, o poeta se referia à beleza das máquinas: “motores”, “guindastes”, “luzes elétricas”, “correias de transmissão”, “rodas dentadas”, “chumaceiras”, “engenhos”, “calor mecânico”, “electricidade”. Antecipando em seu êxtase os prazeres da interação do seu próprio corpo com esse universo, o poeta expressava a beleza dos “maquinismos em fúria” por meio de nexos entre a terminologia própria do mundo das máquinas e termos corporais e sexuais. A “Ode triunfal” fez sentido em um tempo analógico em que as máquinas e o corpo humano viviam em tensão. O corpo ainda estava presente nesse erotomaquinismo ou tecnoerotismo, mas foi descartado em nossa época virtual-digital. Em seu lugar, o plástico surgiu como nova materialidade capaz de substituí-lo. Materialidade artificial que se torna universal no tempo e no espaço, o plástico é, em um sentido ontológico, a substância de nossa época. Se um dia o homem-máquina, hoje o homem-plástico. A desproporção ontológica com as máquinas perdeu-se de vista, porque nossos corpos tornaram-se íntimos do plástico. Mimetizam-no. Fora de nós há o plástico na forma das coisas, do mesmo modo que dentro de nós, na forma de cirurgias, implantes, próteses. Nossa carne é moldada nas academias como se fosse de plástico. Nossa pele deve ser lisa como ele. Materialid

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