“O mito da democracia racial é o nosso grande nó”
(Foto: Ricardo Borges/Divulgação)
Você afirma que não pretendeu, com Racismo brasileiro, gerar uma experiência de leitura prazerosa. Que incômodos o livro pretende causar no leitor?
Minha ideia é que o principal incômodo seja o não reconhecimento das histórias que foram contadas, sobretudo para quem passou pelo ensino formal brasileiro. Grosso modo, as pessoas tiveram, no ensino de história, uma formação com abordagens absolutamente fundamentadas no racismo que nos estrutura. A escola é também um mecanismo de perpetuação do racismo.
Suas memórias do tempo de escola têm esse peso de uma leitura racista da história?
Tenho uma trajetória um pouco diferente, porque sou filha de militante negro. Meu pai, professor de sociologia e língua portuguesa, foi e ainda é militante do movimento negro. Dentro de casa, minha formação foi muito crítica. Li Quarto de despejo, da Carolina Maria de Jesus, com 11 anos. Também estudei em escolas que tinham uma perspectiva mais crítica.
Mas tenho uma lembrança muito forte de não gostar de história do Brasil, de achar uma história chata, apesar de ter tido excelentes professores. Essa maneira muito pacifista de ensinar a história brasileira, que é também um desses mitos fundadores que se organizam no século 19, talvez tenha sido o principal evento com que tive de lidar na minha formação. Era como se a história do Brasil fosse uma história morta, como se fôssemos um paraíso racial pacífico e harmonioso.
Fui professora de ensino fundamental durante muito tempo e essa foi uma questão que meus alunos também traziam. Pergun
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