Privado: O magma da memória
por Giselle Moreira Porto
Em História natural da ditadura, Teixeira Coelho mergulha no magma informe da memória para fazer um livro multifacetado, plural em suas várias camadas. A começar pelo gênero: ensaio ou romance? Da incapacidade de classificá-lo numa ou noutra categoria nasce um texto híbrido, que desafia as fronteiras de gêneros tradicionais.
Não se trata de um livro sobre uma ciência, ao contrário do que o título possa sugerir. Se em sua História natural – enciclopédia da qual Teixeira Coelho retira o título parcial de sua obra –, Plínio, o Velho, afirma que o entendimento da história só cabe “dentro do compasso de nosso conhecimento”, nada mais justo que, para falar de sua experiência de autoexílio em meados dos anos 1970, período da ditadura militar no Brasil, o autor de História natural da ditadura recupere o passado da maneira mais aguda que ela possa permitir: a partir de suas ruínas.
E é por isso que esta é uma narrativa densa – uma densidade perceptível desde as primeiras páginas de abertura do livro, que começa com a descrição de dois amigos – dentre eles, o próprio narrador – que, para subir uma colina, têm de vencer a resistência da tramontana, vento que sopra ao norte da Catalunha e ao sul da França, associado ao suicídio, à excitação nervosa e ao gênio artístico da população local.
Destacam-se aí três ideias reincidentes em História natural da ditadura: a dificuldade de encarar o próprio passado (o medo de estar à mercê de sua força caótica), a questão do suicídio como único probl
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »