O maestro da MPB
LUIZ PIRES
“A linguagem musical basta”. Inspirado nessa frase do próprio compositor (1927-94), o documentário A música segundo Tom Jobim é o novo filme de Nelson Pereira dos Santos, que entra em cartaz hoje, 20.
Dirigido em parceria com Dora Jobim, neta do maestro, ele traz apenas músicas e imagens, sem nenhum depoimento ou narração. Grandes nomes da cena nacional e internacional aparecem no filme, interpretando, em gravações antigas e contemporâneas, a obra do compositor carioca.
Entre eles estão Vinícius de Moraes, Elis Regina, Frank Sinatra, Maysa, Elizeth Cardoso, Silvia Telles, Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr. e Chico Buarque.
Dora recebeu a reportagem da CULT em São Paulo, onde estava para lançar o filme. Leia abaixo os trechos:
CULT – O que mais a encanta na vida e na obra de seu avô?
Dora Jobim – Acredito que é sua própria personalidade. Guardo a referência do que eu mesma conheci e do que fui agregando ao longo da vida através de histórias contadas pelas pessoas. O que eu acho uma graça, neste sentindo de admirar, era o “jeitão” dele, era um excelente piadista, excelente compositor, um sujeito fantástico.
Sobre a música já não sei dizer. Para mim tudo é muito próximo e familiar, não tenho a opinião de crítica musical, mas de quem ouvia o pianinho que estava sempre rolando pela manhã.
Apesar de ser famoso, na minha visão foi sempre o vovô, não era um pop star. Somente depois de sua morte, fiquei que impressionada com a forma como as pessoas o tratavam, lembravam, então tive noção da proporção do seu trabalho.
No dia a dia, era um sujeito normal, de camiseta, e com a música sempre muito presente: gostava de colocar todo mundo para cantar, ninguém era especial, a família cantava, as visitas cantavam, todos cantavam.
Como a música dialoga com a vida de Tom Jobim?
Acho que, naturalmente, as duas coisas andam juntas. A vida dele foi tomando direções graças à música, e a música foi sendo modificada também pelas suas experiências pessoais.
O fato de morar fora do Brasil teve grande influência sobre ele: ir para os Estados Unidos e se ver no meio de toda aquela turma do jazz foi certamente uma primeira fase importante.
Passando por diversas etapas, voltou com aquela experiência que foi fazendo uma vida especial ao longo das experiências que foram se somando. Suas composições também foram mudando conforme a mudança dos parceiros, composições mais sinfônicas, arranjos, vozes.
Como foi realizar um documentário apenas com músicas e imagens? Como fizeram escolhas dentro da vasta obra do maestro?
Foi a coisa mais delicada! O trabalho mais sutil foi o de escolha, pois tínhamos muito material e a limitação de estar fazendo um filme de, no máximo, 90 minutos. Sabíamos que seria um corte radical diante do volume de material que recebíamos, e, ao optarmos pelo conceito de não haver fala, restringimos ainda mais a pesquisa.
Para a escolha das músicas, o Nelson [Pereira dos Santos] fez uma lista de umas 14 que serviam de guia, retiradas do cancioneiro geral, de todas que foram gravadas. Ao longo do processo, chegavam interpretações de músicas que estavam fora em um primeiro momento e pediam lugar.