O falocentrismo na crítica ao falocentrismo

O falocentrismo na crítica ao falocentrismo
O edifício Gherkin, no distrito financeiro de Londres (Georg Eiermann/Unsplash)
  Atribuir gênero ou sexo à razão – supor que a razão seria em si mesma masculina em virtude de propriedades, traços ou estilo pressupostos e assimilados, mas nunca explicitados – talvez seja o gesto, dentre todos, o mais profundamente patriarcal. É claro que a expressão “a razão” carrega consigo camadas de equivocidade. Temos dela, na história da filosofia, diversas imagens, modelos, territórios; mas também há nisso certo solo comum a partir do qual a palavra pode se referir à capacidade de construir argumentos, propor hipóteses, valer-se do pensamento ou simplesmente usar, com sentido ou pretensão teórica, a linguagem. Ocorre que, em nome da filosofia (ou da psicanálise), são tecidos, amiúde, argumentos que daí tentam subtrair a mulher, as mulheres. Eles são reféns de alegorias – por vezes sedutoras, com véus ornadas – ou simplesmente de declarações violentas. À luz dessa observação, para abordar a armadilha em que cai certa crítica ao falocentrismo, podemos pontuar um trânsito breve entre dois textos do filósofo da desconstrução Jacques Derrida: “O carteiro da verdade” (1975) e Esporas: Os estilos de Nietzsche (1978). No primeiro, Derrida dedica um comentário ao Seminário sobre “A carta roubada” (1957), de Jacques Lacan, cujo centro é a localização, no escrito do psicanalista, da metáfora da verdade como “exibição, desnudamento, desvelamento”, e nela, nessa metáfora, o lugar designado à mulher como verdade da castração. Para Derrida, o discurso de Lacan sobre a verdade da carta surrupiada no cé

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