Privado: O Círculo Cínico e as Falácias sobre a Legalização do Aborto

Privado: O Círculo Cínico e as Falácias sobre a Legalização do Aborto
Audiência Pública – Interrupção voluntária da gravidez até a décima segunda semana de gestação. Comissão de Direitos Humanos e Legislação participativa. Senado federal. 6 de agosto de 2015. Marcia Tiburi Gostaria de iniciar essa exposição fazendo um pedido de cuidadosa reflexão conjunta e de generosidade em relação ao tema do aborto. Sabemos que disputas conceituais são disputas políticas e ideias movem o mundo. A crítica de certas ideias evita a mistificação, o preconceito e a má fé que atrapalham uma visão mais razoável das questões que nos tocam, no caso, o tema do aborto. Por isso, meu objetivo prático com o que digo a seguir, além de evitar discursos que sigam em direção falaciosa, é construir uma visão mais razoável do problema da legalidade e da ilegalidade do aborto em nosso país chamando para um diálogo real que envolva todos os implicados, ou seja, a sociedade e seus representantes. O que pensamos e falamos sobre aborto vem a constituir um pano de fundo que influencia decisões. O que pensamos – e falamos, criando assim o campo do discurso – nos faz agir. Por trás do sistema de crenças sobre o aborto há um sistema de interesses. Há fatores político-econômicos em jogo em torno dos quais riscamos com o giz da demagogia um círculo cínico em torno do problema do aborto. Julgamentos morais cruéis contra mulheres transformam o aborto em metáfora do mal fazendo funcionar uma máquina destrutiva do reconhecimento do lugar das mulheres, de sua alteridade, da autonomia sobre suas vidas e corpos, contra seu desejo e sua

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