Nise da Silveira e a instalação do humano
Detalhe da obra “Sem título” (1987), de Waldemar Lúcio Raymond. Guache e grafite sobre papel. Coleção Museu de Arte Osório Cesar (Crédito: Gisele Ottoboni/MAOC)
É inegável a importância de Nise da Silveira para os campos da saúde mental, da psicologia e das artes em nosso país. As instituições que ela criou sempre estiveram a serviço da liberdade e da democracia: em maio de 1944, assumiu a coordenação da Seção de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico, no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro; no dia 9 de setembro de 1946, abriu o ateliê de pintura, coordenado pelo artista plástico Almir Mavignier; com a exuberante produção de pinturas, desenhos e modelagens, no dia 20 de maio de 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente; no dia 23 de dezembro de 1956, inaugurou a Casa das Palmeiras, clínica com as portas abertas que antecedeu a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) como serviços substitutivos à lógica manicomial.
Os diversos setores da terapêutica ocupacional em Engenho de Dentro serviram de contraponto a métodos agressivos (eletrochoque, coma insulínico e lobotomia), combatendo-os de maneira incessante. O cotidiano de trabalho era árduo e evidenciava a exclusão social que, em muitos aspectos, se assemelhava à experiência que ela própria havia sofrido no presídio durante a ditadura Vargas. A médica alagoana conhecia muito bem os muros altos, as grades, os arames farpados, a regulação do espaço e do tempo, a vigilância constante. Era necessário modificar o ambiente de abandono e de degradação humana, típicos das enfermarias e pátios dos hospitais psiquiátricos, instaurando um ambiente afetivo, onde as atividades seriam realizadas livremen
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