Com mulheres em postos-chave, Sesc-SP planeja expansão

Com mulheres em postos-chave, Sesc-SP planeja expansão
Aurea Leszczynski, Rosana Paulo da Cunha e Marta Colabone

 

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Das quatro superintendências do Sesc São Paulo, três passaram a ser ocupadas, pela primeira vez na história da entidade, por mulheres. Marta Colabone, Rosana Paulo da Cunha e Aurea Leszczynski assumiram em novembro do ano passado postos-chave em uma das mais longevas instituições de apoio ao lazer, ao esporte, à educação não formal e à cultura no Brasil. Tempo, sustentabilidade, acolhimento, expansão – a miríade de palavras surge em uma conversa que planeja o futuro sem descuidar da trajetória de uma organização que se integrou à paisagem sociocultural do país.

Novas unidades

Quem ajuda a escrever – continuamente – a biografia do Sesc São Paulo é a historiadora Marta Colabone, que está na instituição desde 1992. À época, ela veio de São José do Rio Preto para assumir um cargo de animadora cultural. Passou pela área de comunicação, trabalhou com cinema e teatro, coordenou a implantação do Centro de Memórias e do Centro de Pesquisa e Formação. Hoje dirige a assessoria técnica de planejamento – Marta é a quarta pessoa a assumir o posto e a primeira mulher entre elas.

O seu trabalho envolve o planejamento conjunto de 40 unidades já em funcionamento e um processo de expansão que prevê 12 novas, além da ampliação de outras já existentes. “Uma unidade que não tem um teatro passa a ter um teatro. Uma unidade que não tem um ginásio passa a ter um ginásio”, explica Marta. “Isso significa desenvolver um pensamento sobre arquitetura também, que acompanha o seu tempo. E a gente não pode perder de vista que a arquitetura do Sesc, em si, é considerada uma ação programática.”

A estimativa é de que as obras estejam concluídas em até dez anos. Na capital, a expansão prevê novos centros culturais e desportivos em Sapopemba e São Miguel Paulista, na zona leste, e Casa Verde e Pirituba, na zona norte. No Centro, três novos endereços: o 14 Bis, que ocupará o atual prédio da Federação do Comércio; o tradicional edifício João Brícola, em frente ao Theatro Municipal, que será a nova sede administrativa da instituição; e a futura unidade do Sesc TBC (Teatro Brasileiro de Comédia).

Segundo a assessoria da entidade, três desses endereços já estarão abertos ao público no segundo semestre deste ano, com funcionamento parcial ou em instalações provisórias: Casa Verde, 14 Bis e o novo edifício sede do Sesc São Paulo.

Além deles, o Parque Dom Pedro II, localizado entre as avenidas do Estado, Mercúrio e a Praça São Vito, que em 2021 desmobilizou a estrutura temporária onde ocorriam as atividades regulares da programação e iniciou as obras de construção da unidade definitiva.

Na região metropolitana, o Sesc vai instalar uma unidade em São Bernardo do Campo. Já no interior, mais três cidades passam a contar com uma unidade: Franca, Limeira e Marília. Há ainda as unidades que já oferecem programação e que estão em obras – ou em vias de iniciar os trabalhos – para ampliação ou melhoria das instalações. Na capital e região metropolitana, Campo Limpo, Mogi das Cruzes e Osasco. No interior, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto e Taubaté.

Marta Colabone, superintendente da assessoria técnica de planejamento do Sesc

Sustentabilidade

Os prédios do Sesc carregam história. Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha, responsáveis respectivamente pelos projetos do Sesc Pompeia e do Sesc 24 de Maio, são dois nomes que marcam o patrimônio arquitetônico da instituição. Em 2021, o projeto de Bo Bardi foi eleito pelo jornal New York Times uma das 25 obras arquitetônicas mais importantes do pós-Segunda Guerra no mundo. “É exemplo de quando você faz uma requalificação de um prédio não originalmente pensado para ser um centro cultural”, afirma Colabone, referindo-se à antiga fábrica de tambores que funcionou no prédio entre as décadas de 1940 e 1970.

“Agora, mais recentemente, adquirimos o edifício João Brícola, que também passará por esse processo de adequação e de preservação do patrimônio público”, conta Marta, que destaca a sustentabilidade como eixo de organização dos novos espaços. “É sustentável em um âmbito maior. É aquilo que você usa de material, o impacto que você causa no entorno, no sentido de ser benéfico.”

Sustentabilidade é um dos conceitos que orientam o futuro do Sesc, diz Rosana Paulo da Cunha. A trajetória multidisciplinar da nova superintendente técnico-social confunde-se com a da própria instituição. Formada em educação física, Rosana especializou-se nas áreas de produção e de gestão da cultura. Tendo sido estagiária em 1986 e contratada no ano seguinte, ela coordenou ações nos campos das artes visuais, dança, teatro, música, cultura digital, literatura, cinema e vídeo. Em 2005, tornou-se gerente de ação cultural, posto que comandou por 17 anos. Agora, Rosana coordena áreas tão diversas quanto alimentação, saúde, atividades esportivas e programas para a terceira idade.

Os planos de expansão do Sesc estão alinhados, segundo a gestora, a uma série de guias de ação. “Tem quatro palavrinhas que são os nossos ideais: acessibilidade, diversidade, transversalidade e sustentabilidade”, afirma. A manutenção de uma estrutura já sólida e os projetos de expansão física e de atendimento exigem, segundo Rosana, o desafio de inovar sem perder o que já foi conquistado.

“Esses valores são compartilhados com todas as pessoas que atuam hoje no Sesc, desde quem faz o primeiro atendimento em uma central até a professora ou o professor que irão dar aula, incluindo os artistas que estão com a gente”, diz. “Há intérpretes, musicistas, performers que explicam, no palco, como se dá o subsídio do Sesc. Acho isso maravilhoso, porque é de fato entender a instituição na qual se atua.”

Rosana Paulo da Cunha, superintendente técnico-social do Sesc

Inovação

Das três novas superintendentes, Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves é a caçula. Formada em filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia, está na instituição desde 2004, quando começou a trabalhar com as ações culturais do Sesc Araraquara. No ano seguinte, assessorou o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, escolhido para ser o presidente do Ano da França no Brasil. Começava, então, a ser criada a ideia de uma assessoria de relações internacionais – área em que atuaria até o ano passado, quando assumiu a superintendência de comunicação social.

“Nesse período, o Sesc dobrou de tamanho e mais um pouco”, afirma Aurea. “Nós também somos frutos de um pensamento social que mudou. Nós somos mulheres que ocupam pela primeira vez esses cargos, sempre exercidos por homens”, lembra. “E também crescemos muito. Somos mulheres que lideramos equipes muito maiores do que aqueles homens coordenavam”, pontua a gestora. Hoje, o Sesc tem cerca de oito mil funcionários. Só em 2022, as 40 unidades em todo o estado registraram mais de 15 milhões de frequentadores, enquanto os conteúdos nas plataformas digitais atingiram quase 85 milhões de visualizações.

Sob a coordenação de Aurea, estão plataformas como o Sesc TV, o Sesc Digital, o selo Sesc, revistas e catálogos. Ela toma como desafio tornar o ambiente online do Sesc tão acolhedor quanto o presencial. “Tem coisas que realmente a gente fica com mais vontade de ver presencial, mas pensamos em acessar lugares mais remotos”, explica Aurea, que realça os 35 mil inscritos em cursos de educação a distância no Sesc Digital. A ideia, segundo ela, é fomentar cursos livres para professores. “Que a gente consiga mover os campos da educação e da cultura como uma coisa só.”

Uma das novidades, segundo Aurea, é o projeto de criação de um streaming gratuito e com possibilidade de integração a smart TVs e celulares. Além disso, a proposta é fazer com que catálogos das exposições sejam lançados logo na abertura das mostras.

Aos quase 80 anos (a instituição foi criada em 13 de setembro de 1946 por um decreto assinado pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra), o Sesc encontra, segundo Rosana Paulo da Cunha, o desafio de inovar sem se desfazer dos pilares que já construiu. Para a gestora, a diferença do olhar pode fazer a diferença nessa empreitada. “Como mulheres, como diversas que somos, temos olhares outros para todo esse contexto”, avalia, ressaltando que as três novas superintendentes são profissionais “formadas”, cada uma, pela longa carreira na instituição.

“O maior estímulo, hoje, é a inovação”, pontua Rosana. “Embora tenhamos um projeto sólido, o que mais somos incentivadas a fazer e incentivamos todos os gerentes que trabalham conosco a praticar é olhar para a inovação. Evocando a memória, voltando-se para o passado, a fim de poder entender onde nós estamos, e como será possível construir o futuro.”

Aurea Leszczynski, superintendente de comunicação social do Sesc

 


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