Mulheres dirigiram apenas 20% dos filmes brasileiros lançados em 2016

Mulheres dirigiram apenas 20% dos filmes brasileiros lançados em 2016
A cineasta Anna Muylaert (Foto: Farrucini.Es/Divulgação)

Longas que tiveram mulheres na direção representaram apenas 9% do público dos lançamentos do ano passado

 

Relatório publicado nesta quinta (30) pelo Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual revelou que apenas 20% dos filmes nacionais lançados em 2016 foram dirigidos por mulheres. A pesquisa, que é parte de um grupo de ações coordenadas pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema) para discutir a questão de gênero no audiovisual, foi apresentada ontem no Seminário Internacional Mulheres no Cinema, no Rio de Janeiro.

Segundo o levantamento, dos 143 títulos lançados no ano passado, 29 foram dirigidos por mulheres. O número é o segundo maior da série histórica iniciada em 2009, que teve seu pico em 2012 (24%).

Apesar disso, os longas que tiveram mulheres na direção representaram apenas 9% do público dos lançamentos de 2016 – ante 28% em 2015. Dos 20 títulos com maior bilheteria no ano passado, só dois, É fada! e Um namorado para a minha mulher, tinham mulheres atrás das câmeras – Cris D’Amato e Júlia Rezende, respectivamente.

Cena do filme ‘Mãe só há uma’ (2016), de Anna Muylaert (Divulgação)

Para a cineasta Anna Muylaert, que em julho do ano passado lançou seu quinto longa, Mãe só há uma, é natural que as mulheres tenham participação pequena em cargos decisivos como a direção, uma vez que o cinema é uma “área de poder”.

“Todos sabemos que a sociedade já se utiliza da força de trabalho feminina, mas ela ainda tem área restrita de atuação, algo que as espanholas chamam de ‘teto de cristal’, ou seja, um limite invisível, mas que determina claramente até onde ela pode ir”, afirma.

Na fotografia, ainda de acordo com o relatório, as mulheres representam esmagadores 8% das profissionais, percentual que se manteve estagnado em relação a 2015, assim como a produção executiva (41%). A direção de arte é o único setor em que elas são maioria (58%).

Cena do filme ‘Como nossos pais’ (2017),, de Laís Bodanzky (Divulgação)

“Há uma grande presença de mulheres nas faculdades de cinema, mas por que elas não têm seus roteiros desenvolvidos, não ocupam a direção?”, questiona Laís Bodanzky, diretora de Bicho de sete cabeças (2001), As melhores coisas do mundo (2010) e Como nossos pais (2017).

A resposta, segundo ela, está na própria “cadeia” cinematográfica. “Os filtros para que um filme seja finalizado são feitos por homens. Muitas histórias nem viram filmes porque são barradas antes”, afirma. “É um mundo repleto de homens que tomam as decisões e que vão dizer se aquilo vai importar ou não ao público.”

Por isso, ela defende a criação de cotas, “tema talvez polêmico”, como possível saída para a igualdade de gênero no âmbito do audiovisual. “Muitas vezes é preciso estimular uma determinada produção para que ela aconteça numa maior velocidade e alcance os mesmos resultados de outras áreas, para tentar igualar um erro do passado.”

 

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