Mostra em SP exibe filmes sobre independência de países africanos
Cena do filme “Mulheres da guerra” (1984), da cineasta holandesa Ike Bertels (Foto: Divulgação)
Eric Campi
O cinema africano, com seus filmes raros e pouco vistos ao redor do mundo, vai ganhar uma mostra especial no Caixa Belas Artes, a Mostra “África(s), Cinema e Revolução” que começou na última quinta (10). O evento exibirá 39 filmes, muitos deles inéditos para o público brasileiro, que tratam dos processos de independência de Moçambique, Guiné-Bissau e Angola.
Para a exibição na mostra, a curadora Lúcia Monteiro dividiu os filmes em três eixos. “No primeiro concentram-se longas dos anos 1960 e 1970, na maior parte das vezes vindos de fora, como brasileiros, franceses, cubanos e iugoslavos, que foram atraídos pelas lutas emancipatórias do período e registraram com o olhar de estrangeiros. Até Jean-Luc Godard filmou lá, mas infelizmente o filme se perdeu”, diz.
A produção também serviu como forma de unificação dos povos recém libertos, segundo a curadora. “Em Moçambique ainda não tinha televisão nacional. O cinema foi visto pelo novo governo como um canal de união nacional, então precisava chegar nos vilarejos mais afastados. Criou-se o cinejornal, onde os episódios eram semanalmente exibidos em estruturas móveis, tipo ‘kombis’ que armavam a tela e organizavam projeções públicas.”
O segundo eixo da mostra foca em cineastas africanos que produziram durante a independência, e o terceiro, em “filmes de diretores contemporâneos que trabalham com as memórias dos acontecimentos”, conta Monteiro. A ideia é mostrar diferentes visões da época. “Tem sempre essa questão, quem é esse cara que está filmando a África? É o estrangeiro com o olhar de fora, do descobridor, ou é um cinema que nasce na África mesmo? Eu penso em contrapor esses dois universos”, explica.
A curadora considera o cinema do continente “revolucionário e militante”. “As independências se deram através de pensamentos marxistas e iniciaram governos de esquerdas, que se propunham a fazer tudo diferente, inclusive o cinema”.
É justamente por essa ideologia que Lúcia credita a pouca divulgação dos filmes: “Foram vistos em festivais importantes de cinema, como Cannes, mas não tiveram distribuição comercial. Depois ficaram guardados em cinematecas e arquivos. O cinema era uma forma revolucionária. Isso não se inseria em uma economia, em um fluxo de cinema mundial”.
O cinema africano, em especial o de Moçambique, Guiné-Bissau e Angola, caracteriza-se não só pela revolução no conteúdo, mas pela novidade na forma. “Era preciso inventar uma forma revolucionária. Como filmar o corpo negro, com que luz, de que maneira? Foi a desconstrução dos preceitos cinematográficos”, diz.
Mostra África(s). Cinema e revolução
Onde: Cine CAIXA Belas Artes; rua da Consolação, 2423
Quando: Até 23/11
Quanto: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia