Mimimi (antigo nhenhenhém)
Laus Veneris, de Edward Burne-Jones, c. 1875
Pode-se reclamar em qualquer língua, mas caso existisse uma língua feita para isso, esta seria sem dúvida o ídiche. Que outro povo, a não ser o judeu, dispõe de um local consagrado às lamentações, ao qual acudem queixosos do mundo todo? Contam que o judeu perguntou ao funcionário de “Assistência ao cliente” das Casas Bahia se podia reclamar, e depois de ouvir a afirmativa deste, tomou o rosto entre as mãos – qual personagem do quadro O grito, de Munch – e disse: “Oy, oy, oy!” Suspirou fundo e… foi embora.
A cereja do bolo é posta pelo cristianismo, que acresce o sacrifício e o castigo com a imagem de Jesus crucificado. Culpados, devidamente castigados e obrigados ao sacrifício, só nos resta buscar o departamento de reclamações mais próximo e militar a favor dos direitos do consumidor.
A psicanálise, uma invenção judaico-cristã (além da culpa), que deveria servir para abandonar o queixume e a dor de cotovelo, tem sido insistentemente convocada como a sua derradeira consagração. Justificada cientificamente, a cultura da reclamação passou a ser não só compreendida pelo que lamenta mas também, infelizmente, compreensível aos que o rondam. Frases como: “fumo pedra porque meu pai me abandonou”; “sofro essa inibição porque na infância...”; “mulheres sentem ciúmes porque o patriarcado opressor as leva a brigar entre si, com vistas a enfraquecer o feminismo”; “estupro mulheres para compensar a impotência a que me reduziu a superproteção materna”, e outros tantos apelos, abrem uma linha de crédito inf
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