"Meritocracia na USP deveria ser dar bons salários"
A Universidade de São Paulo anunciou que vai premiar os melhores professores de sua graduação, a partir deste ano, com iPads, computadores e viagens, baseando-se em critérios como “empatia com alunos”, “produção intelectual” e “comprometimento institucional”.
Francisco Alambert, professor de história na instituição, diz abaixo que o problema da USP é outro: “[o reitor João Grandino Rodas] quer destruir a universidade como patrimônio público, nacional”.
CULT – O método adotado pela USP é segregador, por quebrar a isonomia no quadro docente?
Francisco Alambert – Não acho que méritos ou prêmios sejam o ponto central da USP hoje. O problema é ser uma universidade pública na qual a imensa maioria de seus participantes (alunos, professores e funcionários) não tem “mérito” suficiente para escolher seus representantes e administradores. A eleição para reitor da USP é menos democrática do que a eleição do papa.
Meritocracia em condições democráticas só pode significar contratar os melhores docentes-pesquisadores disponíveis, dar-lhes salários bons, condições de trabalho e liberdade de atuação. Tudo o que a reitoria não faz. O que fazem os administradores do Estado de exceção uspiano é esconder e manipular seu orçamento.
A USP é a mais rica universidade do país, nunca recebeu tanto dinheiro dos cofres públicos, mas não contrata novos professores, não melhora seu hospital, não dá moradia aos seus estudantes, não cria uma guarda universitária que traga de fato segurança (e não terror) ao campus, não reforma prédios nem laboratórios e, agora, vai até cobrar passagem em seus ônibus internos.
Essa medida pode ter efeitos positivos?
Não vejo como pode. Se algum professor resolver se dedicar mais à graduação para ganhar um iPad é porque ele não cumpria suas obrigações, portanto, era irresponsável. Ir a congressos científicos é algo que todos devem fazer. E depois, qual seria o próximo “estímulo”: dar um abadá para o Carnaval de Salvador? Passe livre na Torre Eiffel? Estrelinhas douradas?
Esse tipo de “estímulo” não acontece em nenhum lugar sério do mundo. Esses prêmios são fumaça jogada para distrair.
O reitor tem sido alvo de protestos contra um suposto autoritarismo de sua parte. Essa medida pode ter sido adotada para coibir greves e manifestações?
Acho que é exatamente o contrário. Tudo o que esse reitor faz é criar situações que levam ao conflito. Não se pode esquecer que Rodas nem sequer foi eleito pelo “conselho de sábios”, que escolhe quem deve comandar a USP. Ele ficou em segundo lugar. Foi imposto por José Serra [então governador, que nomeou Rodas em 2009]. Ele é ilegítimo. E, sendo ilegítimo, pode fazer o que quiser.
(1) Comentário
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“Ao correr da pena”, a USP, na qualidade de fundadora da universidade no Brasil, desafortunadamente, no século XXI!, com tais iniciativas, corre para o seu próprio fim, para o afundamento do ensino público superior de excelência no país. Que pena, é lamentável.
abs do Sílvio Medeiros.