Medialidade: quando já não somos fins em nós mesmos
(Foto: Halle-Caccioppoli)
O pensamento de Kant foi o responsável por colocar a dignidade humana como princípio de uma ética válida para todas as pessoas. Que cada indivíduo fosse considerado um fim em si mesmo inspirou gerações e atravessou os séculos 19 e 20 como um imperativo. A ideia da dignidade humana se fortaleceu entre grupos e povos, dando base a relações interpessoais e institucionais. Que seres humanos tenham valor em si mesmos define que ninguém pode ser reduzido a um preço. Ninguém é meio, todos devem ser vistos como fins e, por isso, devem ter direitos iguais.
Nosso tempo rompeu com a concepção antropológica por trás dessa proposta de ética. Do ser humano tratado como um fim em si, passamos a ser universalmente tratados como meios. Se há uma nova ética ou se não é mais possível ética nenhuma a partir desse novo patamar, é um aspecto a discutir. Qual é a ética possível quando fomos transformados em meios e deixamos de tratar uns aos outros como um fim em si?
Ora, desse momento em diante, devemos encarar a realidade. Vivemos sob o sistema em que cada um é rebaixado a meio, em que a questão da ética está em suspenso.
Podemos chamar de “medialidade” o que vem substituir o que Kant chamava de reino dos fins e que caracterizava a humanidade. Estamos agora inseridos no puro reino dos meios. A medialidade diz respeito a uma nova forma de ser. Já não somos fins, mas tampouco somos apenas coisas. Não usamos mais a ideia de dignidade, mas tampouco somos marcados como “gado”, por mais que essa metáfora seja ainda muito usada. O que
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