A ordem das emoções
(Arte Andreia Freire)
Roland Barthes disse que “o discurso amoroso é hoje em dia de uma extrema solidão”, ele é falado por muita gente, mas praticamente não é sustentado por ninguém. Foi a inatualidade desse discurso que levou o filósofo francês a escrever seu clássico Fragmentos de um discurso amoroso (1977) com a intenção de afirmá-lo. Com seu livro ele não apenas analisou, mas se tornou o sujeito enunciativo do amor.
Ao coletar os tropos diversos do discurso amoroso, Barthes nos fez ver não apenas que o amor é um discurso que se diz de diversos modos, mas também de um modo qualquer. Todo discurso é feito de pedaços: frases feitas, jargões, clichês, lugares-comuns. Todo discurso tem um efeito simbólico, ou até mais: um efeito, por assim dizer, ontológico, como se garantisse a existência daquilo sobre o que se fala. Além disso, serve a um procedimento mental perigoso, aquele que se dá como uma espécie de “copy-paste”.
Se é discurso, ele atravessa as épocas, transformando-se conforme as necessidades institucionais e pessoais. O amor se constrói como um paradigma, inclusive o do sonho e o da fantasia. O amor é sempre um ideal e um desafio.
Em tudo, a cada vez que esse discurso é evocado, ele mostra sua relação com o poder.
Mas se tem a ver com poder, não haverá no fundo de todo discurso amoroso uma fagulha, um resquício de violência? É claro que pensamos no amor como uma fala livre de violência. E é claro que o poder não é apenas como uma gradação da violência ou a violência como uma gradação do poder. Além disso,
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »