Lucas
“Pinball #1” (2020), da série “Ensaio para o Encontro do Rosa com o Azul”, de Élle de Bernardini (Imagem: Cortesia da artista)
A entrevista a seguir foi elaborada e conduzida pela psicóloga Sofia Favero, doutoranda em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisadora de gênero, sexualidade e infância, entre outros temas. Com autorização e na companhia dos pais, ela conversou com Lucas, criança trans que atendeu anteriormente em consultório. A transcrição e a publicação da entrevista foram autorizadas pelos pais da criança.
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O que é a infância? A dificuldade suscitada por essa pergunta se dá porque muitos campos do saber tentam respondê-la, e o que temos hoje é uma confluência de respostas antropológicas, pediátricas, do direito, de teorias da subjetividade e de discursos religiosos e midiáticos. Infância, assim, pode se referir a muitas coisas: um estado informado por classificações biológicas, o período da vida até os 12 anos de idade, uma fase com proteção especial de direitos ou até mesmo um estágio privilegiado na formação do sujeito, com a figura do “trauma” tendo grande protagonismo no desenvolvimento.
Quais definições fazem mais sentido? Entendemos uma infância saudável como o desempenho de “garotos” e “garotas” heterossexuais? Com quantas crianças trans convivemos? Qual imagem concebemos ao pensar sobre essa experiência? Começo essa entrevista reconhecendo que há um excesso de especulação em torno dessa forma de se pôr no mundo. Muito do que sabemos sobre as infâncias que desafiam um roteiro prévio aparece entalhado de perigo. Ainda não perdemos o medo diante das
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