Lost in fake news
Com o pequeno Hans, em 1922, paciente cujo caso clínico foi registrado no livro 'Análise de uma fobia em um menino de cinco anos' (1909)
A história parece nos ensinar que nada se aprende com a história. Há muito ausente nos noticiários estrangeiros, a imagem do Brasil subitamente se estampou para o mundo que busca decifrar um enigma doloroso: por qual razão um conjunto tão grande de pessoas escolarizadas se lançou numa deriva autoritária, se a história incansavelmente lhes mostra que a promessa de regulação violenta da violência somente prediz o retorno do pior?
No dizer de muitos, a escolha popular por líderes autoritários estaria ligada à manipulação midiática da opinião através da dispersão das fake news, fenômeno cuja repercussão teria conduzido vários intelectuais a nomear nossa época como era da pós-verdade. Mas essa pretensa novidade não é assim tão nova: a mentira política é tão antiga quanto a própria política. Em vez de tomar a pós-verdade como perda de correspondência factual da narrativa política, devemos ir além da versão aquiniana clássica da verdade como adequação entre realidade e representação mental. Pois não é exato reduzir a mentira à falta dessa correspondência. Quem afirma o falso não mente necessariamente, lembra-nos Derrida: ele pode afirmá-lo por erro ou ilusão, sem necessariamente mentir. Só existe mentira quando há a intenção de enganar, servindo-se da boa-fé do Outro, mesmo quando se afirma uma verdade factual, como no caso de uma potência militar que justifica seu direito de ingerência sobre um país, a pretexto de interromper um estado de calamidade real, mas que disso se serve para adquirir o monopólio de
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