A língua(gem) no tempo: um tema saussuriano
(Andreia Freire)
Em uma passagem do Curso de Linguística Geral, Saussure pergunta: “A língua não cessa de interpretar e de decompor as unidades que lhe são dadas. Mas como acontece que essa interpretação varie constantemente de uma geração a outra?”. Está assim posto o problema da transmissão da língua, mas também de sua descontinuidade no tempo, da mudança linguística, tema da diacronia, neologismo criado por Saussure para qualificar o estudo dos diversos estados de língua no eixo do tempo. Os termos sucessivos não são percebidos pela mesma consciência coletiva e não fazem, portanto, sistema.
O tempo ocupa um lugar importante na reflexão saussuriana; basta invocar as três conferências de Genebra para que nelas se note a hipótese do autor sobre o duplo princípio que atua na(s) língua(s), isto é, o da transformação e da continuidade no eixo temporal. O mesmo problema está no CLG, quando um verdadeiro teorema é proposto. O funcionamento dessas forças antagônicas se explica pelo princípio da arbitrariedade, que rege a língua enquanto sistema de signos e, como tal, sem relação motivada entre significante e significado; “não existe motivo algum para preferir soeur a sister, ou a irmã; ochs a boeuf ou boi”.
É justamente por ser arbitrário que o signo não conhece outra lei senão a tradição, e por se basear na tradição é que ele pode ser arbitrário. Por outro lado, o mesmo princípio da arbitrariedade explica a mutabilidade, isto é, o fato de uma língua ser incapaz de se defender dos inúmeros fatores que deslocam a relação
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