Léonora Miano: ‘Africanidade’ e ‘negritude’ são produções coloniais
A escritora camaronesa Léonora Miano, autora de 'A estação das sombras' (Foto JF Paga/Instituto francês)
Tudo começa com um incêndio na tribo. Em meio às chamas e ao caos, doze homens adultos desaparecem. Nada de corpos carbonizados; eles simplesmente somem sem deixar rastro. Dias mais tarde, suas mães são confinadas em uma cabana para evitar que a tristeza delas contamine o resto da tribo, mas, uma a uma, elas descobrem uma verdade terrível: seus filhos, todos homens fortes, haviam sido sequestrados e levados para uma terra distante, para fins que elas jamais viriam a saber.
No romance A estação das sombras (Pallas), a escritora franco-camaronesa Léonora Miano aborda o tema da escravidão lançando o leitor em uma narrativa angustiante, em que os próprios personagens são incapazes de compreender o que está acontecendo. “Não pensei em um livro que seria agradável aos leitores. Os tópicos sobre os quais eu escrevo não são exatamente o que se chama de entretenimento”, diz à CULT Miano, autora de outros 13 livros e vencedora de prêmios literários como o Louis Guilloux (2006), o Goncourt des Lycéens (2006) e o Fémina (2013).
Originalmente publicado em 2013 – mas recém-lançado no Brasil –, o livro foi baseado no relatório A lembrança da captura, um documento publicado em 2010 pela Sociedade Africana de Cultura da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que busca fazer um resgate das memórias sobre o tráfico transatlântico – o deslocamento forçado de pessoas da África às colônias americanas e à Europa com o fim de escravizá-las – e sobre os sequestros de pessoas no contine
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »