Fundador da Mostra de Cinema de SP, Leon Cakoff morre aos 63
Uma das mais importantes figuras da cultura brasileira dos últimos tempos, Leon Cakoff (1948-2011) faleceu às 13 horas desta sexta-feira em decorrência de complicações causadas por um melanoma, câncer que atinge o tecido epitelial.
A revista CULT convidou dois dos mais importantes críticos de cinema do Brasil, José Geraldo Couto e Sérgio Rizzo, para avaliarem seu legado.
José Geraldo Couto
“Poucas vezes houve uma identificação tão grande entre uma instituição e um indivíduo. A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo era Leon Cakoff, Leon Cakoff era a Mostra Internacional de Cinema. Com o evento que criou, Leon ajudou a formar milhares de cinéfilos de várias gerações, descortinando o cinema do mundo – sobretudo o das cinematografias não hegemônicas – numa época em que não existia videocassete, nem DVD, nem internet. Foi uma das figuras mais importantes da cultura brasileira nas últimas quatro décadas.
Leon era uma pessoa de difícil trato, muito cabeça dura, mas de grande afetividade, além de bem humorado e um excelente contador de histórias.”
Sérgio Rizzo
“A atuação de Leon Cakoff à frente da Mostra pode ser lembrada por diversos aspectos, todos altamente simbólicos. Ele demonstrou que a produção cultural pode ser instrumento de resistência política, durante o regime militar; consolidou a diversidade como critério de curadoria e a cinefilia como instrumento de compreensão do mundo; apostou em São Paulo como uma das cidades mais cosmopolitas do planeta. Essa contribuição inestimável perdurará.
Devo uma parcela considerável da minha formação como espectador, como jornalista especializado e como professor à Mostra, que comecei a frequentar aos 16 anos. Seria impossível enumerar todas as descobertas que fiz graças à programação e todos os desafios criados por essas descobertas.
Eu estava inclusive na histórica e conturbada sessão de “O Estado das Coisas” no cine Metrópole, na Mostra de 1984. A polícia tentou parar a exibição, mas Leon conseguiu levá-la até o final, entrando na sala quando as luzes foram acesas para explicar à plateia, indignado, que a censura interrompia naquele momento o festival.
Há alguns anos, quando fui entrevistá-lo para a “Folha de S. Paulo” pouco antes do início da Mostra, mostrei a ele, no livro que traz a história do festival, uma foto daquele instante em que apareço no meio da plateia. Leon se divertiu com isso e passou a lembrar, animado, a dureza de fazer a Mostra naqueles tempos, mas também o prazer de conseguir fazê-la. É a lembrança dele que levarei.”