Leituras de Winnicott
Nos últimos anos, o mundo parece se apresentar cada vez mais hostil. Praticamente acabou o estoque de esperança no Brasil. “A felicidade só existe ao preço de uma revolta”, ensinava Julia Kristeva. Nesse contexto, a psicanálise apresenta-se como única disciplina capaz de explicar desde uma certa epistemologia (e não desde um lugar piegas, moral ou religioso) o poder de ligação e de inscrição da lei no sujeito do amor. Penso que a psicanálise deveria se perguntar: quem encarna a cultura da revolta no Brasil de hoje? Como a psicanálise poderia contribuir para construir essa “experiência íntima de felicidade” que só existe ao preço de uma revolta? Apontamos a seguir algumas releituras de Winnicott que consideramos oportunas para nos ajudar.
Winnicott e a cultura
Na sua teoria dos processos intermediários, Winnicott chamou a atenção para o lugar da cultura no mundo adulto, equivalente ao brincar nas crianças. Parece-me que foram pasteurizadas as repercussões mais importantes dessa elaboração. O que faz uma criança ao brincar? O que ela constrói e elabora? Por que no brincar são importantes tanto o fazer quanto o pensar? Espero que os leitores concordem comigo se tento resumir essa função vital do brincar infantil como a de: percepção do eu e do não eu, elaboração das angústias de separação, estabelecimento de potencialidades criativas e – pelo mesmo motivo – abrigo da esperança. Abrigo da esperança. Mas, também: elaboração das frustrações, sublimação e deslocamento da agressividade, tentativas de reconhecer e
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