Lançamentos marcam os 20 anos da morte de Renato Russo
por Paulo Henrique Pompermaier
“Às vezes eu sinto que ele está vivo, pois ainda é preciso ouvi-lo e vê-lo”. A opinião é de Thadeu Meneghini, vocalista da banda de rock paulistano Vespas Mandarinas, criada quase 30 anos depois do surgimento da Legião Urbana, em Brasília, “a melhor banda que já existiu no Brasil”, segundo Meneghini. Vinte anos após a morte de Renato Russo, criador do grupo que marcaria de maneira definitiva a história do rock brasileiro, lançamentos retomam a criação artística do músico e poeta, que ainda hoje continua influenciando gerações de artistas brasileiros.
“É comum que, pela própria força da obra, seus fãs e mesmo os admiradores mais moderados, queiram conhecer o que há por trás das letras, como ele chegou até elas e com o que se preocupava cotidianamente enquanto escreveu suas canções”, afirma Tarso de Melo, organizador do livro The 42nd St. Band, lançado no último dia 30 de setembro pela Companhia as Letras.
A obra reúne textos ficcionais escritos por Renato quando ele tinha entre 15 e 16 anos. As histórias são sobre um grupo de rock formado em 1974, em Londres, que tinha entre seus integrantes Mick Jagger, dos Rolling Stones, e outros roqueiros imaginados por Renato Russo. Há entrevistas fragmentárias, listas de cidades de todo o mundo em que 42nd Street Band excursionou, trechos de matérias jornalísticas, os discos e integrantes, listas de canções, anotações sobre as origens e destinos pessoais de cada membro, diferentes formações, ilustrações para as capas dos álbuns. Tudo imaginado por Renato.
Ali, naquele conjunto de textos fragmentados, o músico mostrava sua visão prematura do mundo do rock, seus sonhos e até planos para futuros projetos, segundo Melo, que acredita que naquelas páginas Renato Russo já dava pistas do caminho que pretendia seguir. “Um misto de sucesso incontrolável, conflitos intensos, separações e fins trágicos, permeado por uma incrível criatividade artística”, afirma. O próprio nome do protagonista, Eric Russell, seria mais tarde uma inspiração para o nome artístico que adotou, Russo.
Clássicos regravados
Lançada nesta terça (11), data em que se completam vinte anos da morte do músico, a coletânea “Viva Renato Russo” traz 14 releituras de canções icônicas como “Tempo perdido”, “Faroeste Caboclo” e “Geração Coca Cola” regravadas por bandas relativamente jovens no cenário do rock nacional: Baleia, Supercordas, Vespas Mandarinas, Selvagens à Procura de Lei e outras.
Diretor artístico da Legião Urbana Produções Artísticas e responsável pelo lançamento, Ronaldo Pereira diz que o músico é ainda mais conhecido hoje e que suas músicas “atemporais e que falam sobre temas que continuamos vivenciando a cada dia no Brasil” continuam arrebatando novos ouvintes.
Jan Santoro, vocalista e guitarrista da banda Facção Caipira, responsável pela regravação de “Faroeste Caboclo”, ressalta o desafio em gravar o épico de nove minutos, cheio de detalhes e intenções sutis. “Renato era um gênio, o carinho com as composições, o ritmo das palavras, a poesia e a construção de narrativas são certamente de grande inspiração”, diz.
“Ele era amante da música e exímio ao fazer referências e citações, inclusive ao vivo, algo que também é uma constante no nosso trabalho”, afirma Thadeu Meneghini, da Vespas Mandarinas. Autores da releitura de “Marcianos invadem a Terra”, os integrantes da banda se dizem extremamente influenciada pelos primeiros quatro discos da Legião. “Sempre tiveram coragem, nunca escolheram o caminho mais fácil e mesmo assim atingiram um reconhecimento popular absurdo”, diz Meneghini.
Há ainda outra homenagem programadas para marcar a data. Em julho de 2017 uma grande exposição sobre Renato Russo acontecerá no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. O projeto pretende expor manuscritos originais, diários, fotografias, documentos pessoais, pinturas, roupas, móveis e instrumentos musicais.
Os itens podem ajudar a entender melhor Renato Russo, cuja figura pública, segundo Tarso de Melo, foi cuidadosamente construída antes e durante os bastidores de seus discos. O que faz com que “se possa encontrar muito material de qualidade entre o que não chegou a ser publicado”.
The 42nd Street Band – Romance de uma banda imaginária
Renato Russo
Companhia das Letras
R$ 34,90 – 224 pág.